"Aaah, imagina só... Que loucura essa mistura, alegria, alegria é um estado que chamamos Bahia... De todos os Santos, Encantos e Axé, sagrado e profano o baiano é Carnaval..."
Cantar os versos de Armandinho e Moraes Moreira no meio da avenida, coberto de glitter, confete, suor e felicidade a cada dia que passa se aproxima de uma realidade para os soteropolitanos que sonham com um fevereiro de festa após um ano de hiato devido à pandemia.
A folia de 2022 se tornou uma certeza para empresários e produtores de eventos de Salvador, que desde o início da vacinação na capital, em janeiro deste ano, já se movimentavam para a realização de algum tipo de festejo.
"O nosso trade nunca parou de pensar no acontecimento do Carnaval para 2022, do mesmo jeito que a gente sempre soube que se não houvesse a vacinação o nosso trade estava fadado ao insucesso, ao extermínio", relatou Rodrigo Melo, da Pequena Notável, ao Bahia Notícias.
Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
O evento, que em sua última realização, em 2020, movimentou cerca de R$ 1,8 bilhão na economia soteropolitana, voltou a ser debatido com frequência pelos órgãos públicos com a proximidade da data e o avanço da imunização - atualmente a capital tem mais de meio milhão de pessoas com o ciclo de vacinação completo. Com apenas a primeira dose, já são quase 1,2 milhão de soteropolitanos.
Com blocos e camarotes já sendo comercializados, o BN buscou saber do trade de eventos de Salvador quais as providências que estão sendo tomadas por eles para tornar a festa possível, mesmo que em um novo formato. Para isso, foram ouvidos, além de Rodrigo, Rafa Cal da Oquei Entretenimento, Marcelo Britto da Salvador Produções, o produtor Wagner Miau e o presidente da Saltur, Isaac Edington.
Para o proprietário da produtora Pequena Notável e dono do bloco do Babado Novo, o Carnaval de 2022 vai acontecer: "Nós empresários estamos apostando com a certeza, não como suposição, do acontecimento do Carnaval. A gente sempre pensou e planejou que em 2022 terá Carnaval sim. Porque a gente acha que com as vacinas nós teremos vida normal".
O evento teste é um indicativo de que a folia de Momo pode acontecer de alguma forma. A proposta feita pelo prefeito Bruno Reis para a realização de uma festa para 500 pessoas em Salvador, que ainda não tem data definida para acontecer, se tornou uma "luz no fim do túnel" para o setor de eventos, que está sem trabalhar desde o início da pandemia, em março de 2020.
"Nós vamos ter uma reunião com o prefeito para poder falar sobre isso, mas vai ser acompanhado pela Fiocruz, ou seja, tudo que for legal e dentro do protocolo tem que ser feito. O evento teste é a primeira luz que nós temos no fim do túnel. Já foram feitos eventos testes na Espanha, França, acompanhados pelos órgãos competentes. Isso tem que ser feito, não podemos trabalhar com hipóteses e achômetros", pontuou Melo.
Isaac Edington | Foto: Reprodução / Valter Pontes / Secom
Assim como os empresários nunca deixaram de planejar a festa, a Empresa Salvador Turismo (Saltur), presidida por Isaac Edington, também trabalha com a ideia da folia para 2022, mesmo que o Carnaval não aconteça da forma convencional.
"O nosso desejo, e acredito de todos que amam essa festa, seja soteropolitano ou turista, é que tenhamos condição sanitária para a sua realização. Entretanto, ao mesmo tempo, precisamos pensar também em todas as possibilidades, inclusive de termos que nos adaptar ao novo momento, que a condição de imunização da população permitir. Precisamos estar preparados, avaliar todas as possibilidades, estamos trabalhando nisso", informou Edington ao Bahia Notícias.
A possibilidade citada pelo presidente da Saltur, e já explanada pelo secretário de saúde do município, Léo Prates, é a ideia do Carnaval indoor, evento em ambiente fechado, que foi vista com bons olhos pelo setor de eventos.
"Eu acho que as festas privadas você consegue seguir mais um protocolo. É menos gente, você pode seguir exatamente o que o poder público pede em relação aos protocolos. Então acredito que hoje, não tendo o Carnaval da forma que sempre aconteceu a vida inteira, a minha sugestão é que seja realizado no formato Indoor. O não a gente já tem, então temos que nos planejar", pontuou o empresário Rafa Cal, que comanda a Oquei Entretenimento.
Rafael e Ricardo Cal | Foto: Reprodução / Bruno Laranjeira
O formato não é uma novidade para a cidade, que desde 2019 recebe uma festa neste estilo na Arena Fonte Nova, o Carnavalito. Outros artistas também apostaram nesse estilo, como Durval Lelys com o projeto Pranchão, no qual ele se apresenta com Saulo Fernandes, promovido pela Oquei.
Projeto Pranchão | Foto: Reprodução / Instagram
Rodrigo Melo enxerga o Carnaval indoor como uma possibilidade para ter um grande ativo na folia momesca. Segundo o empresário, não só ele, como outros produtores de eventos da capital, já tem uma festa neste formato na manga, caso essa seja a alternativa escolhida pelas autoridades.
"É uma possibilidade real, fazer a festa para 2 mil pessoas, 3 mil pessoas. De qualquer forma, nós vamos trabalhar o Carnaval esse ano. Caso tenha um veto, mesmo com as taxas baixas, a festa não seja liberada pelos órgãos públicos. Nós vamos fazer o Carnaval indoor, o que for liberado para fazer, nós vamos fazer. Acredito que todas as produtoras, inclusive a nossa, já têm um Carnaval Indoor programado, planejado para acontecer".
Marcelo Britto | Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
O produtor Marcelo Britto, da Salvador Produções, responsável por festas como o Salvador Fest e o Festival de Verão, acredita na possibilidade de um Carnaval convencional com o avanço das vacinas.
"Acreditamos muito que vai ter o Carnaval em 2022, estamos acompanhando o calendário de vacinas e estamos certíssimos que vamos ter".
Porém, caso seja impedido de acontecer em seu formato tradicional, a sugestão dada pelo empresário, que ainda não havia sido citada por outros produtores, foi a realização de festas em bairros, para limitar a quantidade de pessoas e assim poder fazer um melhor controle, ou espalhar os eventos públicos por espaços como o Centro de Convenções.
"Caso não tenha no modelo convencional, que nós acreditamos muito que irá acontecer, terá que ser discutido com o poder público a realização de eventos privados, de acordo com os protocolos. Seria interessante alguns eventos públicos acontecendo em bairros de Salvador, enquanto outros privados acontecem em casas de shows, como o Wet 'n Wild, a Arena Fonte Nova e o Centro de Convenções. E o plano B será montar um cronograma de atividades e shows privados para de alguma forma tentar atender a população", afirmou ao BN.
Assim como Marcelo Britto, o empresário e produtor de eventos Wagner Miau, que trabalha com Bell Marques, se mostra positivo para o Carnaval de 2022. Após uma reunião com o presidente da Saltur, o produtor revelou estar animado com o cenário que vem sendo desenhado para a folia.
Wagner Miau | Foto: Reprodução / Instagram
Ao Bahia Notícias, Miau não se ateve à realização da festa no formato em ambiente fechado, e pontuou que Salvador caminha em uma fila para que eventos de grande porte voltem a ser realizados na cidade.
"A gente está em uma fila para chegar no Carnaval e nessa fila tem o carro na frente com os eventos de quinhentas pessoas, depois tem o carro de duas mil, para a gente chegar nas grandes multidões. Estamos muito ansiosos com essa indefinição, mas a gente precisa respirar um pouco e trabalhar nessas etapas. A Prefeitura não parou um minuto sequer de planejar e replanejar o Carnaval", afirmou.
O replanejamento da folia na cidade, além da ligação com as tratativas sanitárias devido à Covid-19, tem relação com as mudanças estruturais que a capital sofreu ao longo dos últimos dois anos.
Segundo Edington, o trabalho que vem sendo feito pela Prefeitura e pela Saltur independe da pandemia. Para tirar o Carnaval do papel, é necessário ao menos um ano de planejamento, algo que vem sendo feito pelos órgãos, garante o presidente.
"O Carnaval é um evento extremamente complexo e requer um planejamento eficaz. Por conta disso, seguimos sim trabalhando nas ações para a realização do próximo Carnaval de Salvador. Temos questões com relação à infraestrutura, por exemplo, reavaliando os espaços públicos nos circuitos, pois foram realizadas muitas obras na cidade, sendo necessário, portanto, viabilizar possíveis ajustes. É preciso planejar melhorias para a realização da festa em todas as áreas, de acordo com avaliações que fizemos do último carnaval, pois estamos sempre pensando em como melhorar ainda mais aquele que já é o melhor Carnaval do planeta. Todo esse trabalho precisa ser feito independente da pandemia".
Apesar de falar dos processos de produção da festa, Edignton afirma que não pode bater o martelo sobre o formato: "Não é possível fechar questão em nada hoje".
O jeito vai ser segurar a purpurina e o confete, sem perder a esperança de gritar "We Are Carnaval" no meio da avenida novamente. Informações por Bahia Notícias