Cada vez mais popular, o número de procedimentos de redução do estômago vem crescendo no Brasil. Segundo uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, só no Sistema Único de Saúde (SUS), a quantidade de procedimentos aumentou 215% entre 2008 e 2017. No ano passado, juntando as operações feitas pelos sistemas público e privado, foram 105.642 mil procedimentos — apenas no Distrito Federal, 2.712 mil.
São várias as explicações para o crescimento tão acentuado de procedimentos. “Já se passou da fase de aprendizado. O índice de complicações ainda é compatível com qualquer cirurgia de grande porte, mas aconteceu uma grande diminuição do número de resultados ruins”, explica Rafael Galvão, coordenador de Cirurgia Bariátrica da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Outro fator foi a implementação da Resolução n° 2.131/15, publicada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que regularizou quais são os pacientes habilitados a fazer a cirurgia. Antes era preciso ter Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 ou acima de 35 com algumas doenças associadas à obesidade, mas faltava uma descrição mais clara e, por isso, vários convênios se negavam a pagar a cirurgia.
“Agora o processo é discriminado, entram depressão e incontinência urinária de esforço, por exemplo. No SUS, dificilmente se nega cirurgia com índice acima de 35”, conta o cirurgião. O Ministério da Saúde também facilitou o credenciamento de hospitais habilitados, aumentando a rede para atender a demanda.
População informada
“Eu apontaria que a população também está melhor informada. A troca de experiências é mais instantânea com as mídias, as inseguranças são trabalhadas em fóruns no Facebook”, lembra Rafael Galvão.
Enquanto esperava pela cirurgia, a técnica em nutrição Tatiane Lins, 31, entrou em vários grupos de Facebook para procurar ajuda e conhecer pessoas passando pelo mesmo processo. Na fila por três anos e nove meses, ela alerta: a batalha psicológica é complicada. “Até pensei em desistir. A gente precisa perder uma porcentagem do peso para entrar na fila de ‘prontos para a cirurgia’. Eu perdi 20 quilos, mas a operação não chegava. Fiquei ansiosa e acabava engordando de novo”, recorda.
Tatiane só descobriu que podia passar pela cirurgia bariátrica por conta de uma médica. Encaminhada ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), participou de palestras para entender como é o procedimento e o pós operatório. Bem informada, a técnica em nutrição resolveu correr atrás da cirurgia pelo SUS — o preço da bariátrica na rede privada ainda é muito alto: podendo chegar a R$ 30 mil.
Operada há um ano e meio, Tatiane perdeu o total de 75 quilos. Sentiu uma melhora imediata na saúde. “É outra vida. Eu tinha pressão alta, diabetes, ovário policístico, apneia do sono, problemas nas articulações. Hoje, não sofro mais com isso”, explica. Ela continua sendo acompanhada pela equipe do Hran (e é só elogios a todos que a atenderam), mas agora enfrenta outra luta. “Fiquei flácida, preciso de todo tipo de cirurgia reparadora que você possa imaginar”.
A fila da operação é ainda mais longa que a da bariátrica, mas Tatiane pondera: com a saúde em dia, fica mais fácil esperar. “O psicológico fica abalado, a autoestima baixa, mas estou saudável”, diz.
Número alto, mas ainda aquém da procura
“As informações estão chegando melhor aos pacientes e eles estão tomando consciência da possibilidade da operação. Porém, o caminho ainda é longo. A maioria que chega na gente já devia ter sido operado há muito tempo”, afirma o cirurgião bariátrico Luiz Fernando Córdova, presidente do Capítulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica em Brasília.
A operação é cada vez mais procurada, entretanto, de acordo com Córdova, ainda existem muitas pessoas com indicação para a cirurgia na espera.
“A maioria da população que atende o critério e precisa ser operada não consegue chegar na cirurgia. Hoje temos cerca de 5 milhões de pessoas com obesidade mórbida no Brasil e o leque de pacientes habilitados para o procedimento aumentou muito por conta do diabetes e outras doenças metabólicas”, explica. Só no Distrito Federal, cerca de 89 mil pessoas podem passar pela cirurgia.
Para ser operado pelo SUS, os pré-requisitos são os mesmos do sistema privado. No entanto, em Brasília, é preciso apresentar um encaminhamento de um endocrinologista da Secretaria de Saúde. A orientação geral é que se passe por uma orientação, palestras e explicações sobre a cirurgia e a perda de peso.
No Hran, o único centro de saúde público credenciado para a cirurgia no DF, o tempo de espera tem aumentado por causa do aumento da procura.
“O número de cirurgias foi mantido nos últimos cinco anos, mas o hospital acabou se tornando referência e recebemos pacientes também do Entorno e de outros estados. O tempo de espera varia muito por conta da disponibilidade de centro cirúrgico, mas creio que temos em torno de 300 a 400 pessoas aguardando. A média é de dois a três anos na fila pelo procedimento”, avisa Galvão. METRÓPOLES