A Bahia registrou, nos últimos dez anos, mais de 20 mil internações hospitalares e 6.599 mortes decorrentes do câncer colorretal. Atualmente, este é o segundo tipo de câncer que mais mata pessoas no Brasil. Está atrás do câncer de próstata, em homens, e de mama, em mulheres. O estado é o primeiro do Nordeste no ranking geral de óbitos pela doença. Pernambuco (4.751 mortes), Ceará (4.305) e Rio Grande do Norte (1.769) aparecem na sequência.
Ainda assim, o exame para a detecção de câncer colorretal, a colonoscopia, ainda não é feito com a frequência ideal para diminuir o número de casos mais graves. O procedimento, no Brasil, é indicado para indivíduos que possuem de 50 a 75 anos. O diagnóstico precoce garante a chance de sobrevida de pelo menos cinco anos em 74%, de acordo com a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED).
Durante a pandemia do novo coronavírus, a situação se agravou. Em 2019, foram realizadas 13.514 colonoscopias. Em 2020, esse número caiu para 7.652, uma queda de 43,3%. A pesquisa de sangue oculto nas fezes, outro exame de prevenção, diminuiu 83%. Foram 297 em 2019 e apenas 51 no ano passado. Especialista da SOBED, o doutor Ronaldo Taam explica que a crise sanitária causou a suspensão de colonoscopias eletivas, que servem para o rastreamento do câncer colorretal.
"O paciente que fazia o exame para prevenção acabou não fazendo por diversos motivos. Primeiro foram suspensos os procedimentos eletivos, como agora. Você vai ocupar um espaço no hospital, o paciente precisa ficar internado. Precisa usar sedativos para fazer esse exame, e atualmente há uma diculdade na compra de sedação. O valor aumentou muito, e eles são utilizados para intubação. Houve uma redução global de todos os procedimentos eletivos. É um problema mundial. Por isso aconteceu essa redução na Bahia", revelou o médico.
Diversos países já reduziram a idade mínima para começar a investigar o câncer colorretal. Pessoas com 45 anos têm apresentado a doença de forma mais incidente, desde que começaram a ser rastreadas. No Brasil, contudo, ainda não é possível vislumbrar essa realidade.
"É um problema muito sério, tem acontecido, e os estudos epidemiológicos tentam identificar um grupo de risco. Qual é o problema? Eu [o Brasil] tenho recursos limitados. Não consigo atender nem entre aquela faixa etária de maior incidência. Para identificar em jovens, tenho que ter muitos recursos para identificar poucos casos. E, lógico, a gente tem que se preocupar com essa faixa etária. No entanto, temos que pesar qual é o valor de investimento que a sociedade está disposta a fazer nisso. É preciso ver sociedade de um modo geral, gestores de saúde e a própria população aderirem a essa ideia para que a gente possa diminuir. Está mais do que provado que todos os trabalhos de prevenção são custo-efetivos. É a segunda causa de câncer no país, e não se faz nada?", critica Taam.
EXAME EFICAZ
Apesar de invasiva, a colonoscopia é um exame eficaz na detecção do câncer colorretal. Além de identificar um possível agente, maligno ou não maligno, ela proporciona a retirada do tumor durante o procedimento. É diferente do câncer de mama e do câncer de próstata, por exemplo, que até a realização da cirurgia há demanda de uma série de exames de detecção. "Depois que se faz o diagnóstico, muitas vezes o paciente só vai fazer esse exame anos depois", conta o doutor Ronaldo Taam.
Para haver maior adesão, entretanto, o profissional acredita que é necessário um programa organizado, feito em outros países há quatro décadas. "O câncer colorretal, quando dá sintoma, como evacuação de sangue, diarreia, prisão de ventre e emagrecimento, é porque está em uma fase avançada. O trabalho da Sociedade de Endoscopia é tentar implantar no Brasil um programa sistemático para focar melhor em qual população eu preciso fazer essa prevenção", afirma.
MARÇO AZUL
Março é o mês da prevenção do câncer colorretal. Quando detectada em fase precoce, a doença tem maior chance de cura e sobrevida. "O sintoma aparece quando a lesão está grande. Ou está sangrando ou obstruindo uma parte do intestino. A possibilidade de ter invadido outras camadas é muito grande. Muitas pessoas às vezes tem um pólipo, e a pessoa acha que é uma hemorroida, ou uma fissura anorretal, e não procura atendimento médico. Pelas características do sangramento, já podemos perceber que não foi na região final do trato digestivo. O sangue misturado é proveniente de alguma lesão. O sangramento é o sinal mais importante para ser observado", conclui o médico.
Na população em geral, a taxa de sobrevida de cinco anos para pessoas com câncer colorretal em estágio IV, o mais avançado, é de 6%. Informações por Bahia Notícias