Os números sobre violência divulgados nesta quarta-feira (05/06/2019) expõem mais uma vez o descontrole na área de segurança no Brasil. Dados do Atlas da Violência, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que o país teve mais de 65 mil assassinatos em 2017, um recorde nesta estatística.
Outra informação tornada pública pelo governo nesta quarta-feira revelou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, teve o telefone celular invadido por um hacker. Pelo Telegram, foram enviadas mensagens piratas para nomes gravados na agenda do aparelho.
Sem relação direta, os dois fatos têm em comum a marca da incapacidade do Estado de proteger os cidadãos e, até, as autoridades. O mesmo país que serve de cenário para uma matança comparável a tempos de guerra deixa vulnerável a comunicação de um dos ministros mais importantes da Esplanada, responsável exatamente pela área de segurança.
No caso do hacker, trata-se de uma deficiência tecnológica na proteção das comunicações de Moro. Esse tipo de crime afeta a sociedade de modo geral, mas ganha maior relevância quando praticado contra o ministro encarregado de zelar pela tranquilidade da população.
Se não consegue bloquear os invasores de seu telefone, Moro certamente encontra dificuldades significativamente maiores para resolver o problema da violência no país. Embora os números mais recentes, de 2019, confirmem uma tendência de redução dos assassinatos verificada desde o ano passado, a sensação de insegurança nas grandes cidades atormenta os brasileiros.
Nesse tema, o ministro da Justiça e Segurança Pública tem a missão de aplicar uma das políticas de governo mais controversas na agenda do presidente Jair Bolsonaro (PSL). A estratégia do capitão para o setor aposta em medidas apontadas na direção contrária do sentimento da sociedade.
A flexibilização do porte de armas, por exemplo, contraria a maioria dos brasileiros. Pesquisa do Ibope divulgada nesta segunda-feira (03/06/2019) identificou que 76% da população são contrários a essa iniciativa de Bolsonaro assumida por Moro. O mesmo levantamento mostrou que apenas 26% concordam com a proposta.
Ao mesmo tempo que contraria parcela amplamente majoritária da sociedade, o governo confronta a tendência internacional de afrouxar a legislação relativa ao uso de drogas. Enquanto países como Estados Unidos, Canadá e Portugal, por exemplo, reveem as políticas centradas na repressão, o Brasil segue na direção oposta.
Mais que isso, o ministro Cidadania, Osmar Terra, contesta uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre o uso de drogas no Brasil. Como os resultados contrariam a percepção pessoal de Terra, defensor do aprofundamento do modelo repressivo, ele desconsiderou o estudo.
Vistos no conjunto, esses elementos indicam que o governo toma decisões arriscadas em uma área decisiva para a construção de um país próspero e pacífico. Quando ignora um estudo científico por discordar dos resultados, Terra se mostra irresponsável com a realidade brasileira.
Ao apostarem no aumento de armas para combater a violência, Bolsonaro e Moro desafiam a lógica e a vontade de larga maioria da população. Quando não consegue sequer blindar seu celular de hackers, o ministro da Justiça e Segurança Pública deixa a impressão de que está exposto de forma indevida, embora ocupe um dos cargos mais importantes do país. METRÓPOLES