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BRASIL - 20/02/2020

PMs desocupam quartel no Ceará após tiros que feriram ex-governador Cid Gomes

PMs desocupam quartel no Ceará após tiros que feriram ex-governador Cid Gomes

O governo do Ceará retomou na madrugada desta quinta (20) o controle do 3° Batalhão da Polícia Militar em Sobral (270 km de Fortaleza). Os manifestantes, policiais militares que reivindicam aumento salarial e seus familiares, ocupavam o local desde a noite de terça (18) e saíram antes da chegada do Batalhão de Choque da PM.

 

Na tarde de quarta-feira, o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) foi atingido por dois tiros quando tentou entrar no quartel dirigindo uma retroescavadeira. Ele está estável e internado no Hospital do Coração de Sobral e deve ser transferido ainda nesta quinta para Fortaleza. A retroescavadeira usada por Cid ainda está na frente do quartel na manhã desta quinta-feira, quando será feita uma perícia no veículo que foi alvejado por tiros e também por pedras.

 

Sobral é a base eleitoral de Ciro Gomes e Cid, que apoiam o governador Camilo Santana (PT) e, nacionalmente, fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Cid foi governador do estado em momento semelhante de crise com a PM, em 2012. Pelas redes sociais, Camilo Santana classificou como "inaceitável" o que chamou de "extrema violência" praticada "por um grupo de policiais mascarados, amotinados num quartel". O governador petista informou que pediu reforços ao governo federal.

 

"Reforço que já havia solicitado formalmente apoio de tropas federais para o Ceará aos ministros Luiz Eduardo Ramos e Sergio Moro, para uma ação enérgica contra essas pessoas que têm agido como criminosos. Esses crimes não ficarão impunes", afirmou Camilo. Antes de levar os tiros, o senador se dirigiu até o portão de entrada do batalhão tomado pelos PMs. Com um megafone, deu cinco minutos para que eles saíssem do local. Vídeo foi gravado por pessoas que estavam presentes.

 

"O movimento de vocês é ilegal. Vocês têm cinco minutos para pegarem os seus parentes, as suas esposas, os seus filhos e sair daqui em paz. Cinco minutos, nem um a mais". Depois de dar o ultimato, alguns manifestantes se aproximaram do portão gritando que ele não tinha autoridade para determinar a retirada e uma confusão começou. Cid levou um soco e recuou. Depois da confusão ele subiu na retroescavadeira e avançou sobre o portão, quando levou os dois tiros, além de pedradas.

 

Desde a noite de terça-feira (18), PMs fazem motim contra a proposta de reestruturação salarial feita pelo governo Camilo Santana. Em 2017, os ministros do Supremo Tribunal Federal confirmaram a proibição das paralisações de servidores que atuam na segurança pública. A regra serve para agentes das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e do Corpo de Bombeiros, além de funcionários das áreas administrativas. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), estava reunido com o governador da Bahia, Rui Costa (PT), quando soube que Cid Gomes havia sido baleado.

 

Ele tentou, sem sucesso, ligar para o celular de Cid. Depois, entrou em contato com o ministro Sergio Moro (Justiça) e com o governador Camilo Santana. "Acompanho com preocupação os desdobramentos do ocorrido com o senador Cid Gomes, na tarde desta quarta-feira (19), em Sobral, no Ceará. Entrei em contato o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e com o governador do Ceará, Camilo Santana, para obter informações e garantir a segurança do parlamentar", disse Alcolumbre em nota.

 

Até esta quarta, três policiais foram presos e 261 eram investigados por participarem do motim no Ceará, que foi proibido na segunda (17) pela Justiça. Em meio aos atos, dois batalhões foram atacados por homens encapuzados, que roubaram dez viaturas em uma das unidades e esvaziaram pneus dos carros em outra. Na segunda-feira, a Justiça havia determinado, a pedido do Ministério Público do Ceará, que agentes de segurança poderiam sofrer sanções e até serem presos por promoverem movimentos grevistas ou manifestações no estado. 

 

Em um dos ataques, no batalhão no bairro do Papicu, em Fortaleza, cerca de dez viaturas foram levadas. Em outro, na Barra do Ceará, também na capital, os carros tiveram os pneus esvaziados. O governo vai investigar as ações, mas o secretário da Segurança, André Costa, disse nesta quarta-feira que pode haver policiais e esposas de policiais envolvidos nas ações. Os protestos já chegam a ao menos a sete cidades do interior do Ceará. Em Sobral, homens encapuzados, com o corpo para fora das janelas de viaturas da Polícia Militar, circularam pelo centro da cidade nesta quarta ordenando que comerciantes fechassem as portas.

 

Muitos só reabriram as lojas após a chegada de policiais civis e guardas municipais, que estão patrulhando algumas cidades em razão da paralisação de parte da PM. Desde o início de 2020, o governo de Camilo Santana e associações dos policiais e bombeiros militares negociam uma reestruturação salarial. Nesta terça-feira a proposta final foi enviada para a Assembleia Legislativa, que vai discutir o projeto e votar, mas parte da categoria não ficou satisfeita com o que foi definido.

 

A proposta de reestruturação salarial enviada prevê aumento de cerca de R$ 3.400 para cerca R$ 4.500 no salário dos soldados. O pagamento será feito em três parcelas (em março de cada ano) até 2022. Inicialmente o oferecido havia sido aumento para R$ 4.200, em quatro parcelas, mas foi revisto após as associações que representam a classe terem rejeitado a oferta. O governador disse que a proposta já está no limite do que o estado pode oferecer. BN

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