Ir a agências bancárias e enfrentar filas para resolver assuntos financeiros é coisa do passado para uma parcela significativa da população. Segundo um levantamento feito pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), referente ao ano de 2016, cerca de 9,5 milhões de correntistas já fazem mais de 80% de suas transações pela internet ou pelos aplicativos dos bancos, o chamado mobile banking. No ano de referência, 57% das movimentações bancárias foram realizadas por meios digitais.
Segundo o mesmo levantamento, os três tipos de transações mais realizadas pelos brasileiros por meio de aplicativos são transferências de recursos entre contas, pagamentos de faturas e consultas de saldos.
À medida que o número de acessos pelo site da instituição financeira ou pelo app crescem, o número de reclamações junto ao Banco Central (BC) segue o mesmo fluxo. Em 2016, foram registradas 425 queixas referentes ao sigilo e à segurança dos canais de acesso às contas pela web. No ano seguinte, o número passou para 1.688 reclamações, o que representa um aumento de 297%.
Na avaliação de André Miceli, coordenador do MBA em Marketing Digital da Fundação Getulio Vargas (FGV), o número de fraudes acompanha a quantidade crescente de novos acessos às plataformas digitais:
— Com um contínuo aumento do total de pessoas que usam a internet ou o celular para acessar seus dados bancários, aqueles que são mal-intencionados também passam a atacar mais no meio digital.
Para Miceli, um dos vilões dessa história é a falta de informações sobre os golpes aplicados por hackers:
— Observamos que muitas pessoas recebem mensagens sobre supostas promoções ou falsos descontos e acabam clicando no link informado. A partir do momento em que a pessoa visita esse site, ela pode estar infectando seu celular ou seu computador com algum tipo de programa-espião, que rouba todos os dados pessoais, não somente os relacionados às movimentações bancárias.
Na visão de Emílio Simoni, diretor do laboratório de segurança da PSafe, as pessoas acabam sendo vítimas de mensagens maliciosas por causa da criatividade dos invasores:
— Os hackers brasileiros são bastante criativos e têm muito conhecimento cibernético. Eles se aproveitam de assuntos que estão em alta e criam links que chamam a atenção. Quando alguém clica, além de infectar o aparelho, pode se tornar um vetor e transmitir a mensagem maliciosa a outros amigos virtuais — concluiu.
Mais de quatro anos sem ir ao banco
O jornalista Douglas Nunes, de 27 anos, é um exemplo de usuário frequente de aplicativos de banco. Segundo suas contas, eles esta há bastante tempo sem procurar algum tipo serviço bancário em uma agência:
— Há mais de quatro anos, não realizo transações no meu banco — disse o rapaz: — Nesse período, só fui lá para resolver questões burocráticas, como trocar de agência e assinar um documento para aumento do limite de crédito.
Nunes diz que utiliza todas as funcionalidades disponíveis no aplicativo:
— Uso para coisas simples, como verificar saldo e pagar contas. Mas também já pedi empréstimos e aumento do limite do cartão de crédito.
O distanciamento do jornalista em relação às agências bancárias não é recente. Vem desde a época em que abriu sua primeira conta.
— Nas poucas vezes em que eu ia ao banco, sempre encontrava um ambiente cheio, com filas enormes. Esse quadro sempre me distanciou das agências — contou.
Embora nunca tenha sofrido nenhum tipo de golpe ou fraude, Nunes toma alguns cuidados para proteger seus dados durante as transações:
— Sempre acesso minha conta pelo aplicativo do celular, por ter vários dispositivos de segurança.
Questões legais sobre ressarcimento de valores
Procure o banco
De acordo com o advogado Leandro Bissoli, especialista em Direito Digital, caso o correntista perceba que sua conta foi alvo de alguma movimentação estranha (pagamento de contas não conhecidas e gastos em cidades ou estados nos quais a pessoa não esteve), o primeiro passo é procurar a agência onde a conta foi aberta e conversar com o gerente sobre o ocorrido.
Investigação
É comum que a instituição financeira abra uma investigação para descobrir a origem do golpe. Segundo Bissoli, as tecnologias relacionadas à segurança bancária no Brasil são muito eficientes e permitem a identificação de quem cometeu a fraude. Caso o banco não se pronuncie, o correntista deve procurar amparo na Justiça ou junto ao Procon regional.
Devolução
O advogado explica que não existem normas que os bancos devem obrigatoriamente seguir sobre o que deve ser ressarcido ou não. De acordo com ele, cada caso é avaliado minuciosamente. As instituições levam em conta a conduta do correntista e analisam se ele contribuiu, de alguma forma, direta ou indiretamente, para que a fraude se concretizasse.
Legislação
Para Leandro Bissoli, a legislação brasileira consegue atender satisfatoriamente aqueles que são vítimas de crimes financeiros por meio da internet. Ele relembra a lei dos crimes digitais, conhecida como Lei Carolina Dieckmann, com um parágrafo que trata da conduta de usuários que disseminam arquivos maliciosos nas redes.
Investimento
Segundo a Febraban, os bancos investem, anualmente, cerca de R$ 2 bilhões em sistemas de Tecnologia de Informação (TI) voltados exclusivamente para a área de segurança. De acordo com a entidade, as instituições financeiras também atuam em parceria com governos e polícias, e com o Poder Judiciário, para combater os crimes e propor novos padrões de proteção.
Atenção ao navegar
Segundo Emílio Sinoni, da PSafe, a cada 20 mensagens de texto enviadas, uma contém alguma mensagem maliciosa que redireciona o usuário para uma página ou um programa-espião. Por isso, ele recomenda atenção ao que é recebido e, principalmente, onde o usuário clica. Os sistemas bancários são eficientes. Por isso, os ataques se voltam contra os usuários. EXTRA ONLINE