A Petrobras vai esperar o mercado de petróleo se acomodar antes de decidir por reajustes nos preços dos combustíveis para responder à escalada das cotações internacionais após o assassinato do general iraniano Qassim Suleimani na madrugada desta sexta-feira (3).
O presidente Jair Bolsonaro prometeu providências caso a escalada da crise no Oriente Médio leve a disparada no preço do petróleo. Ele frisou, porém, que a linha do governo é a de não interferir na política de preços da estatal.
A cotação do petróleo tipo Brent, negociado em Londres e usado como referência internacional, subiu cerca de 3,50% diante de incertezas sobre os impactos no fornecimento da matéria-prima em meio a tensões na região. A reportagem apurou, entretanto, que a Petrobras vai repetir estratégia adotada após os ataques a refinaria na Arábia Saudita, em setembro, quando esperou por dois dias a definição de novos patamares de preços. Naquela ocasião, o preço da gasolina subiu 3,5% e o do diesel, 4,2%.
A lógica é a de aguardar o mercado se acalmar, para evitar repassar ao consumidor a volatilidade no mercado internacional. A postura reforça expectativa de investidores com relação à nova gestão da política de preços da estatal.
"O [presidente da Petrobras] Roberto Castello Branco mudou a política de reajustes diários e deve esperar mais um pouco para ver como se comportam os preços internacionais", diz o analista Pedro Galdi, da Mirae Asset Wealth Management.
Em nota, a estatal afirmou que "segue com o processo de monitoramento do mercado internacional" e acrescentou que "de acordo com suas práticas de precificação vigentes, não há periodicidade predefinida para a aplicação de reajustes" dos combustíveis.
"A empresa seguirá acompanhando o mercado e decidirá oportunamente sobre os próximos ajustes nos preços", completou a Petrobras. Bolsonaro confirmou a estratégia em entrevista após visitar a primeira-dama Michelle no hospital, onde ela se recupera após procedimentos cirúrgicos estéticos realizados na quinta (2).
"Conversei com o presidente da Petrobras e, a exemplo do que aconteceu na Arábia Saudita, o ataque de drones, em poucos dias volta à normalidade. A gente espera que aconteça agora também", disse, frisando que, se as cotações continuarem a subir, "tem que tomar providência".
"Eu converso com o almirante Bento [Albuquerque, ministro de Minas e Energia], eu converso com o presidente da Petrobras, o Paulo Guedes [ministro da Economia], e nós temos uma linha de não interferir. [Vamos] acompanhar e buscar e soluções", declarou.
Como medida alternativa, ele sugeriu que governadores abram mão de possíveis ganhos com a arrecadação do ICMS caso haja um incremento do preço do petróleo, para reduzir o impacto da variação na ponta para os consumidores. "A gente apela para governadores. Vamos supor que aumente 20% o preço do petróleo. Vai aumentar 20% o ICMS. Não dá para os governadores cederem um pouco nisso também? Porque todo mundo perde. Quando você mexe em combustíveis toda a nossa economia é afetada nesta questão".
A Petrobras reajustou a gasolina pela última vez no dia 27 de novembro, com alta de 4%. Já o preço do diesel foi elevado em 3% no dia 21 de dezembro, o terceiro aumento em pouco mais de um mês.
A política de preços da estatal prevê o acompanhamento de um conceito conhecido como paridade de importação, que inclui as cotações internacionais do petróleo, a taxa de câmbio e custos para trazer os produtos ao país. Para o analista da Oanda Edward Moya, as cotações do brent devem ultrapassar os US$ 70 (R$ 283, ao câmbio atual) na semana que vem e podem se manter nesse patamar, já que o mercado pode começar a trabalhar com a possibilidade de conflito militar limitado nas próximas semanas.
Para o pesquisador visitante da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e coordenador-técnico do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Rodrigo Leão, o comportamento das cotações do petróleo vai depender da reação de Rússia e China, que já declararam apoio ao Irã.
"Se a Rússia se envolver de forma intensa, pode haver uma elevação mais abrupta das cotações", avalia. Para ele, porém, ainda e cedo para fazer projeções. "[A postura da Petrobras] é uma postura correta, prudente", afirma.
Um cenário de cotações em alta tornaria inevitável o reajuste nos preços internos dos combustíveis. A manutenção do petróleo em patamares mais elevados, lembra Galdi, tem efeitos na inflação e pode alterar planos dos bancos centrais ao redor do mundo. B NEWS