A alta de 9,4% prevista no início do ano para a venda de veículos virou queda de 40%. Após quase três meses sem produzir e com emplacamentos pífios, a Anfavea (associação das montadoras) revisou suas projeções para 2020.
O mês de maio termina com 43.080 veículos produzidos, um crescimento ilusório de 2.232% em relação a abril, o pior mês da história moderna da indústria automotiva nacional.
A comparação com maio de 2019, dado que reflete a realidade do mercado, indica uma queda de 90,8% na fabricação de carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões. Os números foram divulgados nesta sexta (5) pela Anfavea.
Algumas fábricas voltaram a produzir em diferentes datas de maio, enquanto outras retornam ao longo de junho. O ritmo está mais lento, em um turno, e as empresas se adequam aos novos protocolos de segurança sanitária.
As vendas começam a reagir. A primeira semana de junho registra média de 4.000 unidades comercializadas por dia útil. É quase o dobro do alcançado nos últimos dois meses.
Entretanto, com 62 mil veículos emplacados, o setor viveu o pior maio desde 1992, com queda de 74,7% em relação ao mesmo período de 2019.
Nem todos os Detrans estão funcionando plenamente, o que deve ocorrer ao longo de junho. Por isso se espera uma alta expressiva neste mês, embora ainda muito distante do registrado em janeiro e fevereiro.
No acumulado do ano, há queda de 37,7% nos emplacamentos. São 400 mil unidades a menos que o registrado nos primeiros cinco meses de 2019.
Os estoques ainda são suficientes para 97 dias de vendas. Há 200 mil carros parados nos pátios das montadoras e nas concessionárias.
O impacto da paralisação das fábricas é mais sentido pelos fornecedores. Antonio Azevedo, fundador da LogiGo Mobility, afirma que a demanda por produtos cessou. A empresa fornece equipamentos tecnológicos como centrais multimídia com inteligência artificial.
“São três meses sem faturamento, outros fornecedores passam pela mesma situação, e as montadoras estão usando seu poder econômico para postergar pagamentos”, diz Azevedo. Segundo o empresário, faturas que antes eram pagas em cinco dias agora têm prazos de até dois meses.
Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, afirma que a preocupação com os fornecedores foi manifestada pela entidade desde o início da pandemia e que as fabricantes de veículos também passam por um momento difícil. “As montadoras estão com uma redução de 80% a 90% por mês nas suas receitas.”
Segundo Moraes, é preciso urgência para implementar o Programa Emergencial de Acesso a Crédito, criado por meio da Medida Provisória 975. A iniciativa prevê um fundo garantidor de R$ 20 bilhões para empréstimos tomados por pequenas e médias empresas nacionais de diferentes ramos.
A saúde financeira dos fornecedores será fundamental para a reordenação do setor automotivo. As empresas precisarão voltar a investir na produção nacional de componentes, mudando o mapa globalizado de fluxo de peças que até então era a tônica dos investimentos no século 21.
Segundo Marcus Ayres, sócio-diretor da consultoria Roland Berger, a tendência que se desenha com o choque de realidade da pandemia é a ‘glocalização’, que mescla a produção local com a importação de alguns componentes. A estratégia busca reduzir os problemas causados pela interrupção do fornecimento de peças seja por questões políticas, econômicas ou de saúde.
“É menos uma estratégia de proteção do mercado e mais uma estratégia de controle de riscos”, diz Ayres. O consultor lembra que a cadeia de fornecedores é bastante fragmentada, com 3/4 das empresas sendo de pequeno e médio porte. “Um agravante disso é que elas têm, em média, dois meses de robustez financeira para suportar uma crise.”
Além dos problemas internos, as montadoras instaladas no Brasil veem a crise travar as exportações. Apenas 3.900 veículos foram enviados ao exterior em maio, uma queda de 91% em relação ao mesmo período de 2019. É o pior resultado para o mês desde 1972 e o pior acumulado dos últimos 18 anos.
O nível de empregos se mantém estável, com 125 mil funcionários empregados nas montadoras. Cerca de dois terços dos funcionários seguem afastados dos postos de trabalho, seja em férias coletivas ou abrangidos por programas de proteção ao emprego. Informações por Bahia Notícias