Era para ser um discurso formal, com tempo estabelecido pela Mesa Diretiva e todos os cuidados com as regras da Casa. Afinal, com a experiência de duas décadas ocupando diariamente a tribuna da Câmara Municipal – para desespero dos colegas de direita – o ex-vereador Messias Gonzaga, comunista puro sangue, sabe muito bem disso. Mas o momento era maior e o contador de histórias deixou o coração falar da emoção de se tornar cidadão feirense e comendador. E agradeceu.
Quem esteve na Câmara na noite desta sexta-feira (31) teve a oportunidade de ouvir relatos históricos de vivências no plenário e nos bastidores do Legislativo feirense. Dentre essas memórias, que ele carrega na bagagem da vida, o ex-vereador e atual ouvidor da Câmara, citou a instituição da Tribuna Livre, “para dar voz à sociedade”, e criação de gabinetes para os vereadores e designação de assessores para os mesmos – sua primeira assessora foi Wilma Suzart, servidora da Casa.
Em seu pronunciamento, permeado pela emoção e o humor sutil que lhe é peculiar, Messias fez o que mais gosta: contar histórias. E elementos para isso não faltaram. As dificuldades de ser comunista em uma época em que o partido ainda era clandestino, a relação com os colegas e servidores da Casa. De Dival Machado a João Serafim de Lima (João do Ouro) e Chico Caipira ele citou um a um. Também agradeceu à imprensa, em nome do jornalista Valdomiro Silva.
Na verdade, a homenagem foi dupla. O Título de Cidadão Feirense ao pernambucano de Serra Talhada foi iniciativa do ex-vereador Genésio Serafim, enquanto a Comenda Maria Quitéria foi concedida por Silvio Dias (PT). Ambas as honrarias foram aprovadas por unanimidade, o que foi ressaltado pelo homenageado, que citou a importância da sessão ocorrer em 31 de março de 1964. “Foram 21 anos em trevas, prisões, exílio e autoritarismo”, lembrou o comunista de todos os tempos.
Os vereadores Genésio Serafim e Silvio Dias – que dividiu a presidência dos trabalhos com o vereador José Carneiro (MDB) – justificaram a concessão das honrarias pelo histórico político de Messias Gonzaga, graduado em Farmácia que saiu dos laboratórios para as tribunas, sendo eleito vereador por quatro mandatos, sendo um de seis anos. “Se credenciou pelo exemplo”, resumiu Genésio. Silvio Dias, que disse sentir-se orgulhoso em poder prestar a legítima homenagem.
Também discursaram a respeito da trajetória política de Messias Gonzaga Jairo Miranda, representando o presidente do PC do B, Haroldo Lima; Gerinaldo Costa, presidente do PT em Feira de Santana; Jailson Oliveira, vereador de Paulo Afonso e primo do homenageado. Ocuparam o plenário os ex-vereadores Antônio Carlos Coelho, Marcos Figueiredo, Liomar Ferreira, Jorge Oliveira, Maurício Carvalho e Marialvo Barreto. Presente ainda Professor Bento, representando o deputado federal Zé Neto.
Messias Gonzaga mereceu ainda uma homenagem feita pelo jornalista Júnior Santos, que cantou uma música contando a sua trajetória no plenário da Casa da Cidadania, encerrando a sessão solene. Júnior é o criador do projeto Mente Porreta, página que ganhou destaque nas redes sociais pelas músicas com nomes femininos. Já são mais de 100 composições de músicas e poesia.
Por Ascom