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FUTEBOL - 02/10/2019

As semelhanças e diferenças entre Renato e Jesus, personagens da semifinal entre Grêmio e Flamengo

As semelhanças e diferenças entre Renato e Jesus, personagens da semifinal entre Grêmio e Flamengo

Futebol ofensivo, jogo bonito, títulos e atletas valorizados. Há muito mais semelhanças entre os estilos e os trabalhos de Renato Gaúcho e Jorge Jesus, personagens principais antes do início da semifinal da Libertadores, hoje, entre Grêmio e Flamengo, às 21h30, em Porto Alegre.

A principal diferença é que Renato, aos 57 anos, tem três anos no cargo, e vai em busca de sua terceira final na competição sul-americana, após ganhar em 2017 com o Grêmio e chegar com o Fluminense em 2008.

Depois de duas passagem em que livrou o clube gaúcho do rebaixamento, a atual ficou marcada por dar fim a um jejum de 15 anos sem títulos relevantes, que começou em 2016, com a Copa do Brasil. Em 2018, Renato figurou na 28ª posição no ranking da revista Four Four Two de melhores técnicos do mundo.

Já o português Jorge Jesus, 65, completou três meses no comando do Flamengo. Com contrato somente até junho de 2020, tem a missão de repetir o feito de Renato no Grêmio: erguer taças de grandeza incontestável já no primeiro ano, especialmente o bicampeonato da Libertadores, que o rubro-negro não vence desde 1981.

Com trabalhos consolidados em seus países, Renato e Jesus exibem outra diferença marcante: apenas o português atravessou fronteiras. Após três campeonatos portugueses e cinco taças da Liga com o Benfica, Jorge Jesus tenta repetir no Brasil a revolução promovida em seu país, onde foi eleito o melhor técnico por três vezes.

Citado por Renato como ganhador apenas em seu país, Jesus chegou a duas decisões de Liga Europa com o Benfica, em 2013 e 2014, mas de fato ainda não ergueu taças internacionais em 30 anos de carreira. Mesmo assim, neste período foi considerado o 8° melhor do mundo, segundo a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol ( IFFHS).

- Jesus nos últimos dez anos nunca ficou abaixo do terceiro lugar num campeonato. Mesmo nas equipes pequenas, nunca ficou abaixo do oitavo. Há 10 anos, pelo menos - defende o jornalista português Rodrigo Cortez, do jornal O Jogo.

Com dez anos a menos de trabalho, o ídolo de Flamengo e Grêmio se revezou em clubes do Rio antes da primeira passagem no Sul, em 2010. Embora tenha conquistado a Copa do Brasil de 2007 com o Fluminense, foi no tricolor gaúcho que Renato alavancou a carreira e encontrou sua melhor versão, para buscar o sonho da seleção brasileira.

- Renato Portaluppi talvez não tenha a quantidade de estudo e teoria de Jorge Jesus, mas a força do combo de resultado e desempenho do seu trabalho no Grêmio o coloca no patamar dos melhores treinadores onde também está Jesus - afirma Mauricio Saraiva, comentarista do SporTV.

Enquanto isso, Jesus tem no Flamengo não uma chance de recomeço ou de afirmação, mas de provar que a fama de revolucionário que tem em Portugal não é à toa. Quem chegar à final da Libertadores estará mais próximo de seus objetivos.

- Jesus reproduz no Flamengo sua ideia de jogo que desenvolveu no Benfica. Tenho dúvida se o Renato conseguiria levar para outro clube o que ele faz no Grêmio. Mas Jesus tem mais a provar. Renato é mais longevo e tem conquistas pelo caminho - compara Nicolas Wagner, da Rádio Grenal.

Técnicos ajudam clubes a ganhar muito dinheiro

Em seu principal trabalho, Jorge Jesus trouxe títulos para o Benfica, mas também muito dinheiro, cerca de 200 milhões de euros - mais de R$ 1 bilhão. É quase o que Renato Gaúcho fez no Grêmio, em proporções menores, ajudando o clube a arrecadar na faixa de R$ 300 milhões com a revelação de talentos ao longo de três temporadas.

A principal negociação do clube gaúcho foi Arthur, que rumou para o Barcelona, por R$ 148 milhões. O Grêmio ainda vendeu Pedro Rocha, Walace, Jaílson, Marcelo Grohe e o jovem Tetê, que nem chegou ao time profissional. Everton Cebolinha foi a última grande grife de Renato, que já havia ajudado Luan a chegar à seleção. Mas a dupla permanece no Grêmio, dando retorno em campo.

No período em que comandou o Benfica, entre 2009 e 2015, Jorge Jesus deu aos analistas de desempenho motivos para jogar o holofote sobre os brasileiros David Luiz e Ramires, ambos vendidos para o Chelsea, assim como o meia sérvio Matíc. O argentino Di Maria chegou como desconhecido e foi para o Real Madrid. Outros conterrâneos do atacante brilharam nas mão de Jesus e saíram, como o zagueiro Garay e o meia Enzo Peres. Sem contar na transferência de Axel Witsel para o Zenit em 2012, na ordem de 40 milhões de euros, recorde no Benfica na ocasião.

4132 x 4231: Como jogam os times de Jesus e Renato

Não há dúvidas que Flamengo e Grêmio jogam o fuebol mais bonito do Brasil. Questionados, Jesus e Renato puxaram a brasa para suas sardinhas, mas novamente a principal diferença entre os trabalhos é o tempo. Ao ampliar a análise dos conceitos implementados em campo, no entanto, o técnico português tem mais bagagem.

Inspirado no holandês Cruyff, Jesus desenvolveu os próprios métodos de treinamento e os aplica desde o início da carreira. O modelo de jogo ofensivo, baseado no esquema 4132, privilegia qualidades técnicas e a vitória a todo risco. Foi assim que o treinador teve suas ideias propagadas por todos os principais times de Portugal, como Sporting, Braga e Porto.

- Estas proezas não são por acaso. Fez no Benfica e no Sporting, mas também nos clubes pequenos. Ele revolucionou o futebol português. Como admirador do Cruyf, tentou se basear nele, e conseguiu revolucionar - explica Rodrigo Cortez.

Como bom autodidata, Jesus convencionou que seus times defenderiam com cinco jogadores e atacariam com seis, com apoio dos laterais. Antes dele, o Benfica atuava com dois volantes de marcação.

- As equipes dele dão mais espetáculo, jogam futebol mais ofensivo. Sempre tem uma nota artística - acrescenta o jornalista.

Hoje, o Grêmio de Renato Gaúcho faz algo parecido. Mas nem sempre foi assim. Segundo a imprensa gaúcha, Renato bebeu do trabalho de Roger Machado e deu alguns toques no início. Resolveu o problema na bola aérea e instaurou marcação individual. No início, tinha volantes menos construtores, como Walace e Jailson, até passar a jogar com Arthur e Maicon, e Michel e Matheus Henrique. O mérito do treinador foi se adaptar ao material humano que tinha. E aperfeiçoar o esquema 4231.

- Renato nunca foi esse treinador ofensivo, de jogo bonito, troca de passes. Ele soube se adaptar ao que estava sendo montado no Grêmio, e deu autonomia aos atletas. Não é um time posicionado, os atletas tem liberdade. Cebolinha busca o centro do campo, Alison flutua na direita. Tardelli tem movimentos com liberdade. Os laterais participam da construção. Renato entendeu o elenco e fez o time jogar bonito - analisa Nicolas Wagner, da Rádio Grenal.

O fato de o técnico ter decidido morar em um hotel em Porto Alegre por três anos já pesa a seu favor, uma vez que ainda tem casa em Ipanema, no Rio.

- Renato mudou de patamar como treinador na atual passagem. Houve uma mudança de comportamento em relação às outras passagens. Isso se reflete na maneira como ele conduz o time no campo e nos resultados. Está há três anos em Porto Alegre levando a sério a carreira de técnico, com objetivo de treinar a seleção. Tomou gosto pela carreira - lembra Camila Nunes, da Rádio Gaúcha.

Para Diogo Olivier, jornalista, a evolução "absurda" se dá pela maior proximidade do técnico com o setor de dados do Grêmio. Mais perto dos analistas de desempenho, Renato mantém o esquema de jogo, para ganhar consistência, mas faz movimentos ousados, sempre com a ideia de troca de passes rumo ao ataque, e se defendendo com a bola nos pés.

- Soube jogar mais fisicamente, na bola aérea, como contra o Godoy Cruz. Mais fechado como contra o River na última semifinal. Já abriu mão de centroavante. Entrou com três zagueiros. Soltou laterais. Mostra um repertório técnico e tático maior. Se ele é forçado a jogar de outra maneira, consegue, troca peças - explica Olivier.

Disciplina e controle do vestiário é ponto alto em comum

Fora de campo, Renato Gaúcho e Jorge Jesus ostentam uma liderança incontestável. A disciplina e o controle do vestiário são pontos-chave dos dois trabalhos.

No Grêmio, Renato divide as atividades com o elogiado auxiliar Alexandre Mendes, mas o comando é seu. Já chegou a multar Everton e Geromel por levarem cartões desnecessários. Já entrou em atrito com o departamento médico para ter jogadores lesionados antes do prometido.

No Flamengo, Jorge Jesus impôs outra cultura. Exige horários, mas ainda não teve que aplicar sanção contra nenhum jogador. Há certa tolerância em função da maratona de jogos. No entanto, quando indica uma tarefa nos treinos e jogos, quer ela cumpria integralmente.

Os episódios de discussão com Rafinha se tornaram corriqueiros, e o lateral deixou claro que os jogadores mais experientes têm liberdade para contestar e opinar, mas seguirão a determinação em prol do Flamengo. EXTRA ONLIN E

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