A Justiça decretou a prisão temporária por 30 dias da responsável pela Escola de Ensino Infantil Colmeia Mágica, na zona leste paulistana. O local passou a ser investigado pela polícia após vídeos de crianças amarradas com lençóis serem compartilhados na internet.
A decisão, publicada na segunda-feira (21), acolheu pedido da Polícia Civil e do Ministério Público, que afirmam haver fortes indícios de que as crianças matriculadas na escola eram vítimas de tortura. O caso corre em segredo de Justiça.
A polícia afirmou à Justiça que o pedido de prisão é necessário para garantir a serenidade da investigação, evitando a destruição de provas e o contato da diretora do colégio, Roberta Regina Rossi Serme Coutinho da Silva, 40 anos, com testemunhas e pais de alunos.
A diretora não havia se apresentado ou sido localizada pela polícia até a publicação desta reportagem. A irmã dela também é investigada, mas não foi alvo do pedido de prisão expedido pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).
O advogado de defesa delas, André Dias, afirmou à reportagem, na manhã desta quarta-feira (23), que suas clientes estão em um "lugar seguro". O defensor afirmou que não iria comentar sobre a decisão judicial.
A reportagem apurou que Dias entrou com um pedido de habeas corpus, ainda na noite de segunda-feira, para derrubar a decisão judicial, o que não aconteceu até o momento.
As investigações começaram após vídeos, feitos com um celular, mostrarem crianças amarradas com lençóis, no banheiro da escola infantil.
Um mandado de busca e apreensão foi cumprido por investigadores da Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas), da 8ª Delegacia Seccional, no último dia 10.
Na ocasião, policiais apreenderam sete lençóis, supostamente usados para restringir o movimento das crianças, além dos celulares das responsáveis pela instituição de ensino.
À época, o caso era investigado como maus-tratos. Mas, no decorrer das investigações, tortura e associação criminosa também foram incluídos como objetos de apuração por parte da polícia.
As suspeitas, em depoimento, negaram conhecimento sobre as situações vexatórias das crianças veiculadas na internet. À polícia, ambas reconheceram o banheiro como sendo da instituição de ensino.
Cerca de 20 pessoas foram ouvidas, entre funcionários e pais de alunos.
Professoras e ex-professoras da Colmeia Mágica afirmaram em depoimento, segundo registros da Promotoria, que crianças eram colocadas em bebês-conforto, dentro do banheiro, amarradas com lençóis, quando choravam com insistência. Elas relatam que, para abafar o choro, por vezes eram colocados cobertores na cabeça dos bebês, e a porta era fechada.
A prática ocorria, ainda segundo funcionárias, por suposta orientação da direção da escola.
As suspeitas negam qualquer envolvimento ou conhecimento dos maus-tratos.
O advogado André Dias reforçou à reportagem, no último dia 17, que o colégio busca descobrir quem fez as gravações e colocou as crianças naquela situação.
Pais de alunos No dia 19, uma manifestação com pais de alunos ocorreu em frente à escola.
Um agente de trânsito de 25 anos afirmou à reportagem que uma das crianças que aparece amarrada em um dos registros é seu filho de 11 meses. O nome dele e de outros pais de alunos será omitido para preservar a identidade das crianças.
Ele disse nesta quarta que a criança foi matriculada na instituição quando tinha quatro meses de vida. A escola foi escolhida, acrescentou, pelo fato de ele conhecer a diretora da unidade.
Antes da veiculação das imagens com as crianças amarradas em lençóis, o agente diz que já havia notado uma mudança de comportamento no filho, mas que acreditou ser algo normal, até então, por causa da idade do menino.
O homem afirmou que o filho fica agitado quando é coberto com algum lençol em casa. A criança, acrescentou, costuma ficar com os braços esticados para cima quando deita na cama.
O agente diz que só começou a ficar de fato desconfiado ao ver policiais cumprindo um mandado de busca e apreensão no local, no dia 10.
Em 2010, a diretora da Colmeia Mágica foi investigada pela morte de uma criança sob seus cuidados.
O advogado da escola confirmou o caso, acrescentando que ele foi arquivado. A reportagem apurou que o processo, de fato, não tramita mais na Justiça.
Por Agita Brasilia