"Por muitos anos eu me calei, sofri, sangrei e levo essas marcas no meu corpo até hoje”, disse a mvítima Cristina, de 37 anos. A lei federal 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, foi um marco significante no combate à violência contra a mulher e uma das formas de coibir as agressões está assegurada nas chamadas medidas protetivas.
Em Feira de Santana, o número de mulheres sob proteção judicial teve um acréscimo de 19,6%, comparado com o mesmo período de 2018. No ano passado, no primeiro semestre a Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (Deam) registrou 1.615 ocorrências com 234 medidas protetivas. Em 2019, o órgão registrou 1.624 ocorrências com 280 medidas protetivas.
De acordo com a delegada Erundina Nunes, este aumento pode ser justificado com o encorajamento feminino em realizar a denúncia. “As mulheres tinham medo e ficavam no anonimato. Hoje, com as ferramentas de proteção e o poder da mídia, a vítima se sente mais segura para denunciar e entende o seu papel e a sua importância na sociedade”, disse.
“A medida é cautelar. Tem o objetivo de proteger a integridade da mulher e evitar que o agressor se aproxime sobre qualquer forma ou meio de comunicação. E observamos também que a idade média dessas mulheres está entre 18 e 40 anos, além das exceções”, completou.
Cristina conta que só teve coragem de pedir ajuda judicial há 8 meses. “Eu era ameaçada constantemente, as minhas dores eram constantes. Fui casada por 6 anos e após o nascimento do nosso primeiro filho, que hoje tem 3 anos e meio, as agressões começaram. No início, eu ouvia muitos xingamentos e recebia empurrões, mas com o passar do tempo, ele, que sempre foi ciumento, começou a demonstrar um lado super possessivo”, disse.
“Ele me privou de sair. Ouvia diariamente que eu estava feia. E os meses foram passando e as agressões aumentavam. Eram chutes, mordidas, socos e ele dizia que se eu contasse para alguém que tudo seria pior. Meu corpo era marcado, eu passava maquiagem para disfarçar os roxos. Mas, durante a nossa última discussão, em que ele estava embriagado, ele pegou uma faca e veio em direção a mim. Eu peguei nosso filho e fui para a delegacia”, conta.
“Durante esses 8 meses, morei em dois lugares. Eu só queria fugir daquele pesadelo. Retornei para Feira, estou reconstruindo a minha vida e aguardo o processo judicial, sob medida projetiva. Eu sei que muitas mulheres ainda passam por isso, mas nós somos fortes e podemos mudar essa história. Denunciar é o primeiro passo”, finaliza a vítima. FOLHA DO ESTADO