Não é assunto novo a violência contra a mulher por jogadores de futebol. Ao passar dos anos, surgem na mídia mais e mais casos que demonstram um outro lado de atletas que muitos brasileiros têm como inspiração. Após os escândalos e crimes, vários continuam suas vidas como se nada tivesse acontecido. Outros somem aos poucos do holofote. Poucos são os punidos. Mas fica a pergunta: por que há tantos casos que envolvem atletas do meio?
Para Gustavo Bandeira, doutor em Educação e autor de estudos sobre a masculinidade e o futebol, a frequência em casos de violência sexual e agressões tem como um dos fatores o histórico de autorização desses atletas em comportamentos “desviantes”.
O caso mais recente é o de Antony, que foi afastado do Manchester United, time que fazia parte desde o ano de 2020. O atleta também foi desconvidado do jogo da Seleção brasileira contra a Bolívia e o Peru pela primeira fase das Eliminatórias da Copa de 2026 após o UOL repercutir prints e áudios que mostram supostas conversas entre o jogador e a sua ex-namorada, a DJ influencer Gabriela Cavallin. O material confirmaria agressões e ameaças que ele fez à mulher.
Ex-jogador do Santos, Robinho é mais um atleta envolvido em violência contra a mulher. Ele foi condenado por envolvimento em estupro coletivo na Itália. O crime ocorreu em Milão, em 2013, e a pena imputada foi de nove anos de prisão. Mas ele segue sem ser punido, pois a defesa faz de tudo para que a condenação não chegue ao abusador.
Raízes do problema
O problema não é o futebol, mas uma estrutura gerada socialmente, como explica Gustavo Bandeira ao Metro1. “A gente tem uma sociedade extremamente violenta, extremamente machista e um ambiente bastante permissivo, um ambiente onde os jogadores que têm uma boa performance dentro de campo estão autorizados a fazer qualquer coisa", explicou.
A lista é extensa. Outro caso é o do atleta baiano Daniel Alves, preso há mais de seis meses. Ele é acusado de ter estuprado uma mulher em boate na cidade de Barcelona, na Espanha. O episódio teria ocorrido durante a madrugada do dia 30 para 31 de dezembro de 2022, na casa noturna Sutton. O jogador foi formalmente acusado pela Justiça da Espanha, mas ainda não há uma data marcada para o julgamento.
Após o caso Daniel Alves, a Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal aprovou, na última quarta-feira (14), um relatório que reúne projetos que visam a proteção da mulher no país e firmou um protocolo chamado de “Não Nos Calaremos”. A proposta tem a relatoria da senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) e segue para votação na Casa. O texto traz orientações para prevenir e identificar casos de assédios em diversos estabelecimentos no país, como também transporte gratuito para vítimas a um local seguro.
Para Celi Taffarel, especialista em Ciência do Esporte, mestre em Ciência do Movimento Humano e doutora em Educação, jogadores que são violentos fazem parte de um sistema de valores. “Esse sistema tem a ver com as relações sociais de produção da vida que são relações opressoras e exploradoras, escravocratas, patriarcais e que, durante milênios vem tornando as mulheres sujeitas dentro de casa, fora de casa e nos espaços públicos”, ressaltou.
A formação dos atletas
Há de se pensar também em como esses atletas são formados. Para Bandeira, o futebol ainda é um esporte feito de homens para homens, em que desvaloriza àqueles que não se encaixem em um perfil que seja “disposto a episódios de violência dentro e fora de campo”. “Um homem que não leva desaforo para casa, um homem que tem que aguentar pressões e violências maiores que a média. Essa formação de jogadores, muito vinculada à prática do futebol, acaba sendo uma dificuldade, e auxilia a formar pessoas que não têm muita empatia e que não conseguem valorizar outras pessoas”.
Falar da saúde mental também é necessário visto que só no Brasil há 18.677 atletas profissionais, de acordo com um levantamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de 2022. Segundo a psicóloga Wanessa Torres, há um claro desequilíbrio emocional dentro dessa categoria. “Por trás da figura do atleta existe um ser humano e cuidar da saúde mental dos atletas não significa apenas se preocupar com os resultados dentro do campo”, pontuou.
Por Metro 1