Que não está fácil para ninguém, todo mundo sabe. E que o sucesso de hoje não é garantia de emprego amanhã, também. Hoje à noite, na estreia de “O tempo não para”, um grupo de 13 congelados desperta após 132 anos conservados num gigantesco bloco de gelo. A grande questão da trama é como essas pessoas vão lidar com as descobertas e os desafios do século 21. Nesse clima da novela, artistas do elenco contam aqui nesta reportagem como enfrentaram períodos de ‘‘congelamento’’ na TV, sem convites para trabalhos.
‘O tempo não para’: resumos de 31 de julho a 04 de agosto
‘O tempo não para´: resumos de 06 a 11 de agosto
Adriane Galisteu, por exemplo, começou como cantora do extinto grupo Meia Soquete, passou por vários canais como apresentadora, fez cinema e teatro e buscou novos ares na internet. Até ressurgir no “Dança dos famosos”, do Faustão, em 2017, foram seis anos afastada da TV aberta. Agora, ela é Zelda na história escrita por Mario Teixeira que ocupa a partir de hoje a faixa das 19h.
— Nunca parei de me comunicar. Não tenho medo de levar “não”. Nem vergonha de trabalho algum — orgulha-se a estreante em novelas da Globo.
Já Solange Couto, a Coronela de “O tempo não para”, deu o “start” no mundo artístico como uma das mulatas de Sargentelli, nos anos 70. Pisou pela primeira vez nos Estúdios Globo em “Sinhá Moça” (1986). Fez “Renascer” (1993) e outras tantas até ganhar notoriedade com a inesquecível Dona Jura de “O Clone” (2001). Antes disso, ela conta, penou por mais de um ano e meio sem emprego.
Com mais de quatro décadas de carreira, Luiz Fernando Guimarães, famoso por papéis cômicos, volta à TV como o Amadeu da trama das sete após um hiato de sete anos.
— Nunca tive uma relação de funcionário com a empresa. Sempre trabalhei por obra certa. Mas nossa relação é ótima. Falo “quero”, “não quero” e pronto! — destaca o ator.
LUIZ FERNANDO GUIMARÃES
“Eu me congelo, não trabalho muito. Não gosto! Já fui bancário, não precisa mais. Gosto de viver, de sair. Sempre criei meus produtos. Aí, as pessoas falam: ‘não vou chamar o Luiz porque ele não faz novela’. E isso vai virando uma cultura sabe-se lá de onde. Nunca falei isso. Essa novela eu vou fazer e vai ser ótimo, mas eu não emendo realmente. Às vezes, vem aquele pensamento: ‘E se não rolar mais nada?’. Isso acontece, sim, mas não relacionado à TV, e sim à sua própria competência. Você fala: ‘Pô, estou sem saco para fazer teatro, que problema’. Não é problema! Vai curtir a vida! Só tem que guardar um dinheirinho. Tenho pais bancários, eu sempre soube guardar dinheiro”.
SOLANGE COUTO
“A primeira vez que eu senti um baque foi entre ‘Chiquinha Gonzaga’ (1999) e ‘O clone’ (2001). Fiquei um ano e sete meses sem trabalhar. E aí fui me virar! Estudei em colégio de freira, então sei fazer bordado, pintura de casa, de móvel, faço bolo decorado... Na época, a Morena (27 anos) era pequena, o Márcio (44) ainda estudava, eram dois colégios para pagar. Criei meus filhos sozinha. Sou amiga dos pais deles, mas nunca fui de brigar por causa de pensão. Tive filho porque quis. Coloquei barraca em feira, bordei enxoval de criança, de noiva. Também já dei aulas de artes cênicas para crianças em troca da mensalidade do semestre da minha filha”.
ADRIANE GALISTEU
“Fiquei seis anos fora da TV aberta, mas nesse período eu tive programa em TV por assinatura, tenho meu canal no YouTube (o ‘Galisteu sem filtro’) , aprendi a lidar com as redes sociais e a me reinventar mesmo. Claro que quando eu estava vivendo aquilo (tempo de geladeira) não era bom. Achava que o mundo ia acabar. Dizia: ‘Poxa vida, por quê? Eu sei fazer’. Mas, depois, entendi que eu precisava de mais para ter mais. Se você quer resultados novos, precisa fazer coisas novas. Não adianta lamentar! Eu me mostrei disposta e aberta para o novo”.