O agente da Polícia Civil do Distrito Federal Alexandre Duarte Mota, 41 anos, foi preso às 23h30 da noite dessa quinta-feira (8/2) ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Brasília de um voo vindo de Vitória (ES). Lotado na Seção de Repressão às Drogas da 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul), Mota é suspeito de integrar uma quadrilha que traficava cocaína na Esplanada dos Ministérios.
O grupo foi desarticulado pela própria PCDF, na terça-feira (6/2), no âmbito da Operação Delivery. A investigação, que já resultou em 24 detenções e fez a polícia cortar na própria carne, é da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central). No entanto, como Mota pertence ao quadro da corporação, a corregedoria efetuou a prisão.
A informação é de que nem mesmo os colegas de trabalho sabiam das atividades paralelas do servidor. Mota também se aproveitava do cargo para monitorar possíveis operações contra o tráfico de drogas envolvendo o grupo. O pagamento pelos “serviços”, geralmente, era feito em cocaína.
Foragido
O policial era considerado foragido desde a deflagração da megaoperação. O Metrópoles apurou que ele estava de férias com a família no Espírito Santo. O agente trabalha na corporação há 12 anos. Tinha uma remuneração média de R$ 13 mil. Agora, ele pode responder por associação para o tráfico. Um segundo suspeito ainda é procurado.
Segundo as investigações, os acusados vendiam diversos tipos de entorpecentes, como escama de peixe (cocaína pura), haxixe, maconha, merla e LSD. Usavam motocicletas para entregá-los. O material vinha da Bolívia. Os traficantes atuavam somente no DF, especialmente para atender a clientela da Esplanada dos Ministérios. Entre os consumidores, jornalistas, médicos e servidores públicos, alguns de alto escalão.
Ligação perigosa
Mota é primo de Carlos Alberto de Almeida Leite, 25 anos, com quem mantinha contato constantemente. O jovem, conhecido como Kaká, é apontado pela polícia como o maior fornecedor das drogas. Os comparsas buscavam o entorpecente na casa dele, na Vila Planalto, e distribuíam na região central. Ele também foi preso pela PCDF, assim como a namorada, ex-estagiária da Procuradoria-Geral da República (PGR), Marcela Galdino da Silva, 23.
As drogas eram entregues, muitas vezes, em órgãos públicos ou nas imediações. Entre 40 e 50 pessoas foram identificadas como clientes cativos da quadrilha. Elas ainda serão ouvidas pela polícia.
Kaká e outro homem preso na operação — identificado como Rodrigo Silva Vaz, ou Passarinho — tinham lavanderias. A suspeita é de que eles usavam os estabelecimentos, localizados em Águas Claras e no Sudoeste, para “limpar” o dinheiro da droga. A PCDF vai pedir à Justiça o bloqueio dos bens do grupo.
Prisões mantidas
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) converteu as prisões em flagrante dos suspeitos em preventivas. A decisão ocorreu na quarta-feira (7/2) na audiência de custódia. Ao proferir a decisão contra 12 presos na Vila Planalto, a juíza Lorena Campos afirmou não ter ocorrido qualquer irregularidade que pudesse gerar o relaxamento da prisão e ressaltou a gravidade do crime:
“Nas interceptações realizadas, foi possível verificar a atuação de uma forte associação criminosa na Vila Planalto e em outras regiões do DF. Ela se mostrou organizada, tendo membros com divisões de tarefas estipuladas pelos líderes”, pontuou a magistrada.
O juiz Aragonê Nunes Fernandes, da 1ª Vara de Entorpecentes do DF, que julgou os demais presos, entre eles o secretário parlamentar Daniel Lourival Azevedo, ressaltou o trabalho de inteligência feito pela polícia durante um ano. “Acresço ainda que a prisão não decorreu de evento fortuito. Ao contrário, ela envolveu trabalho de inteligência policial, ao longo de grande período, com mandados de busca e de prisões temporárias”.
Na audiência, Fernandes detalhou a implementação, pelo grupo, de um sistema de tele-entrega, “verdadeiro ‘delivery de entorpecentes’, levando drogas para órgãos públicos desta capital, demonstrando a ousadia e o destemor dos envolvidos”.
“A prisão de todos se mostra adequada, necessária e proporcional. Isso para, de um lado, garantir a ordem pública, freando a ação delitiva do grupo; e, de outro, para preservar a instrução criminal, desbaratando a célula criminosa”, destacou o magistrado. METRÓPOLES