A Polícia Civil do DF deflagrou nesta quarta-feira (5/9) operação contra facções criminosas que atuam dentro e fora de presídios. Uma advogada de Brasília foi presa acusada de levar informações dos internos para os integrantes que estavam nas ruas. Ela é suspeita até mesmo de participar da seleção e do batismo, ritual de entrada no grupo criminoso, de novos integrantes. A polícia identificou que a facção estava “batizando” membros na Espanha e na Venezuela.
O delegado da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública (Cecor) Thiago Boeing explicou como funciona a facção criminosa. “Existe um ritual de batizado. É exigido indicação. A pessoa ganha uma matrícula. Se estiver na rua precisa pagar uma mensalidade e se o integrante estiver preso recebe um benefício em dinheiro. Existem também julgamentos que, muitas vezes, resultam em execuções”, disse.
Interceptações telefônicas e cartas apreendidas mostram que quase uma centena de assassinatos dentro e fora dos presídios foi cometida sob as ordens da cúpula da facção em 2017 em pelo menos 13 estados – além de ataques contra policiais e agentes prisionais em cinco unidades da Federação. Tudo planejado a partir da Penitenciária 2 (P2) de Presidente Venceslau, na região oeste de São Paulo.
Vinte pessoas já estavam presas na capital federal e outras 19 foram detidas nas ruas do DF. O grupo é acusado de articular homicídios, assaltos e tráfico de drogas. Dois líderes da chamada Célula 61 foram identificados no Paraná e em São Paulo. Eles estão foragidos.Foram cumpridos 57 mandados de prisão preventiva e 49 de busca e apreensão em Brasília, São Paulo, Praia Grande (SP), Curitiba (PR), além de Águas Lindas (GO) e Santo Antônio do Descoberto (GO), cidades do Entorno do DF. Os nomes dos alvos da operação não foram divulgados pela polícia.
Segundo a polícia, a facção tenta se instalar no Distrito Federal desde 2001. Com as recentes operações, a célula foi desarticulada.
Ainda de acordo com a PCDF, o grupo estaria planejando se estabelecer na capital da República, visando a inauguração do presídio federal em Brasília. Advogados que têm essas lideranças como clientes foram presos na operação, batizada de Hydra. Um deles já estava detido por transportar entorpecentes. Os mandados foram autorizados pela 4ª Vara Criminal de Brasília.
São Paulo
Uma mulher foi detida nas primeiras horas do dia em Praia Grande, litoral de São Paulo, suspeita de ser encarregada de administrar uma central de apoio a presos que fazem parte de facção criminosa. Ela é foragida da Polícia Civil do DF. Documentos apreendidos pela polícia mostram que em apenas uma transação de drogas, a facção faturou R$ 1,3 milhão.
A operação teve apoio das polícias Civil de São Paulo e do Paraná, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe).
Organização
Em junho de 2018, a Polícia Civil de São Paulo e o Ministério Público da capital paulista revelaram mais detalhes da engrenagem da facção criminosa. Com sede no estado, o grupo montou um setor de “recursos humanos”, responsável pela manutenção de um cadastro atualizado dos integrantes, além de organizar cursos de fabricação de bombas e de formar um “time” de matadores profissionais. Os criminosos criaram outro setor para expandir a atuação em presídios femininos. METRÓPOLES