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POLÍCIA - 20/10/2019

Mortes no bicho: autores de dez crimes cometidos nos últimos 21 anos nunca foram punidos

Mortes no bicho: autores de dez crimes cometidos nos últimos 21 anos nunca foram punidos

A guerra pelo controle de pontos de jogo do bicho e máquinas caça-níqueis no Estado do Rio deixou um rastro de mortes impunes ao longo de décadas. Levantamento feito pelo EXTRA revela que os mandantes de dez crimes possivelmente ligados à contravenção, cometidos ao longo dos últimos 21 anos, nunca foram punidos.

Com o assassinato de Paulinho de Andrade — um ano após a morte do pai, Castor de Andrade —, em 1998, teve início uma série de execuções pelo controle de pontos do bicho. Nenhum dos crimes foi totalmente elucidado.

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No caso da morte de Paulinho, só o pistoleiro foi condenado. A autoria intelectual da trama, que aconteceu em meio a uma guerra sangrenta dentro da família do capo, nunca foi identificada e responsabilizada. A resolução de outro assassinato — o de Myro Garcia, em 2017 — também ficou pela metade. Do total de casos analisados, sete — o mais antigo de 2009 — ainda estão em andamento e dois acabaram em absolvição.

Na semana passada, Shanna Garcia, filho do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, disse que os homicídios no coração do jogo do bicho, nunca desvendados, expõem uma “polícia corrompida”. Alvo de atentado no último dia 8, no Recreio, ela acusou a equipe da Delegacia de Homicídios, que investiga a emboscada, de ser “um monte de gente vendida”. O assassinato de Maninho, pai de Shanna, em setembro de 2004, foi um dos casos não solucionados. Em 2018, após 14 anos, as investigações foram arquivadas a pedido do Ministério Público (MP).

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Antônio Carlos Silva Biscaia, que foi procurador-geral de Justiça do Rio nos anos 1980 e 1990, lembra que a impunidade é histórica. Ele relata que, na primeira vez em que esteve à frente do MP, em 1984, determinou abertura de inquérito para investigar contraventores. Ele deixou o cargo dois anos depois e, em 1991, ao reassumi-lo, surpreendeu-se:

— Sete anos depois, procurei o inquérito. Nada havia sido apurado. Determinei que nada mais fosse enviado à polícia. Seguiríamos com as investigações no MP. O problema é que as investigações nunca são feitas de forma correta, e os bicheiros têm poder de corrupção e intimidação.

Desfechos obscuros

Uma ação inédita aconteceu pouco depois, em 1992, quando grandes capos, entre eles Castor de Andrade, foram condenados pela juíza Denise Frossard a seis anos de prisão por formação de quadrilha armada. O julgamento foi histórico, e os contraventores foram para trás das grades. Cinco anos após, tinham sido soltos.

Na família de Shanna, além de Maninho, há outras três mortes obscuras — a de seu ex-marido, José Luiz Lopes, o Zé Personal, a de seu irmão, Myro Garcia, e a do pecuarista Rogério Mesquita, braço-direito de Maninho e tratado como “tio”. Shanna chegou a ser denunciada, com sete pessoas, entre elas quatro PMs e um policial civil, por tentativa de assassinar Mesquita. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP se convenceu de que o crime estava ligado ao espólio de Maninho. Mas os acusados foram inocentados. O amigo da família foi morto meses depois, em janeiro de 2009, em Ipanema. Nunca se descobriu por quem. Em 2018, o Gaeco pediu que inquéritos ligados à contravenção, que estavam na Delegacia de Homicídios, fossem enviados ao órgão.

Até quando há desfecho, o resultado é obscuro. Rogério de Andrade era acusado de ser mandante da morte do primo, Paulinho, e de um segurança. Mas ele e seu irmão, Renato, também réu, foram inocentados por falta de provas. O único condenado foi o ex-PM Jadir Simeone, que confessou ter matado Paulinho a mando dos irmãos. Ele foi morto no presídio.

Procurada, a Secretaria de Polícia Civil informou que todos os casos são apurados com rigor, “não só pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), mas por todas as unidades policiais, independentemente da natureza dos envolvidos”. Declarou ainda estar ouvindo testemunhas e fazendo diligências sobre a tentativa de homicídio de Shanna: “No momento oportuno, a DHC apontará os responsáveis pelos crimes para apreciação do Judiciário”.

Disputa por poder na contravenção

Castor Gonçalves de Andrade e Silva tornou-se o chefão da contravenção no Rio nos anos 70 e chegou a expandir seus domínios para o Nordeste. O capo morreu de enfarte em abril de 1997, dando início a uma guerra na família. Ainda em vida, Castor escolheu Rogério, seu sobrinho, para comandar a contravenção na Zona Oeste e em outras áreas do estado. O filho de Castor, Paulinho, não concordou e iniciou uma guerra com o primo. Em 1998, Paulinho e um segurança foram assassinados na Barra. O genro de Castor, Fernando Iggnácio Miranda, assumiu o lugar na disputa com Rogério. EXTRA ONLINE

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