Em um encontro ontem com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a bancada do PT apresentou a lista de ministérios dos quais não deseja abrir mão no futuro governo. As pastas apontadas como fundamentais para serem comandadas pela legenda são Fazenda, Casa Civil, Articulação Política, Desenvolvimento Social, que cuida do Bolsa Família, Saúde e Educação. As pretensões entram em choque com os desejos de siglas aliadas e acrescentam mais um ingrediente na tarefa de Lula de acomodar os interesses da aliança.
Segundo um integrante da cúpula do PT, a sigla organizou os ministérios em três categorias: os da cota pessoal de Lula (Articulação Política, Justiça, Fazenda e Casa Civil), os de órgãos de Estado (Itamaraty, Controladoria-Geral da União e Advocacia-Geral da União) e os demais, que poderão ser distribuídos entre os partidos aliados.
Embora líderes petistas considerem pouco provável, pastas como Saúde e Educação, que o PT comandou em parte das gestões petistas passadas, poderão ficar com legendas aliadas, a depender do cenário de construção de governabilidade. Cálculos iniciais apontam que o partido teria pelo menos 15 ministérios para legendas da base.
As demandas do PT na Esplanada serão reunidas pela presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, e discutidas em reunião da executiva marcada para a próxima quinta-feira. No encontro de ontem, Lula afirmou que Gleisi ficará na presidência do partido em 2023 e, portanto, não assumirá ministério. Como adiantou a colunista do GLOBO Bela Megale, um dos objetivos da decisão é não abrir uma disputa interna na sigla pela sucessão de Gleisi.
O quebra-cabeça da nova Esplanada será construído por Lula também levando em conta o tamanho das bancadas na Câmara e no Senado. Por esse cálculo, legendas aliadas como PCdoB, PSOL e Rede ficariam com um ministério cada.
Questionado se o partido terá menos ministérios do que nos dois primeiros governos de Lula, o vice-presidente da legenda, deputado José Guimarães, afirmou que as pastas que ficarão com o PT serão as mais qualificadas:
— Nós vamos ter menos na matemática, e mais no mérito.
No encontro com Lula, petistas defenderam a importância de o PT ficar à frente do Ministério do Desenvolvimento Social, destino apontado como o preferido da senadora Simone Tebet (MDB) e que também estava na mira de Gleisi. A avaliação feita por petistas é de que não importa qual integrante da sigla ficará no comando da pasta, mas é fundamental que o ministério, que tem forte atrativo pelos dividendos políticos e eleitorais, não fique na mão de partidos aliados.
Caberá a Lula arbitrar essa disputa. Tebet foi um nome fundamental para a vitória de Lula no segundo turno das eleições e é uma das coordenadoras da área na transição. O temor do PT é de que com o forte apelo eleitoral da pasta, responsável pela distribuição de benefícios como o Bolsa Família, Tebet se cacife para a disputa presidencial de 2026.
Integrantes do MDB já trabalham com a possibilidade de a senadora dar uma guinada em seu plano inicial e apostar as suas fichas na pasta do Meio Ambiente. A área que ganhou mais importância nos últimos anos, devido às duras críticas feitas à gestão do governo do presidente Jair Bolsonaro no setor, e terá protagonismo sob comando de Lula.
Além da equação dentro do próprio partido, Lula precisará de jogo de cintura para acomodar as legendas que ele espera ter em sua base no Congresso. O MDB já sinalizou interesse em integrar dois ministérios, além do que provavelmente vai para Tebet; seria uma indicação da Câmara e outra do Senado. O PSD, de Gilberto Kassab, também já apresentou três nomes para compor a Esplanada de Lula. Desses, dois devem ser escolhidos.
Por Extra Online