As menos de 24 horas que o Senado teve para apreciar a Medida Provisória (MP) da Esplanada dos Ministérios do presidente Lula (PT) reacenderam as críticas à Câmara dos Deputados na tramitação deste tipo de texto.
Após longa negociação entre centrão e governo, deputados federais começaram a apreciar o texto da medida provisória na noite de quarta-feira (31), e só terminaram na madrugada de quinta-feira (1º).
Como a MP precisava ser votada no máximo até as 23h59 de quinta, senadores, conforme a Folha de S.Paulo, reclamaram de não terem conseguido nem ler o texto, muito menos propor alterações —o que exigiria que a proposta voltasse aos deputados e, inevitavelmente, estourasse o prazo de validade.
Depois de um longo impasse sobre o rito de tramitação das MPs, as reclamações ressuscitaram as discussões sobre o tempo de análise para cada uma das Casas. O próprio relator do texto, o líder do governo na Casa Alta, Jaques Wagner (PT-BA), admitiu ‘não ter tido muito o que relatar por terem ficado espremidos pelo tempo’.
“Nós ficamos espremidos pelo tempo. Não era da nossa vontade, mas eu digo que a vida é como ela se apresenta e, portanto, não há muito o que relatar”, frisou o senador Jaques Wagner (PT-BA), relator da MP dos Ministérios, durante a votação.
“O senador Jaques Wagner leu o relatório? Nem vi. Não existe, porque chegou de madrugada. Agora, dá para aperfeiçoar? Não dá. Por quê? Porque nós não temos os prazos para fazer”, reclamou em seguida o líder do PSDB, senador Izalci Lucas (DF).
A atual situação deve se repetir nos próximos dias com a votação da MP que retomou o programa habitacional Minha Casa Minha Vida – o texto perde a validade no próximo dia 14, uma quarta-feira, e a votação no Senado está prevista para a semana do dia 11 -. tem resultado em críticas por parte de membros da base aliada de Lula sob reserva ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que segundo eles, retarda o debate para ter controle sobre o desfecho das medidas provisórias.
Já a oposição repete o argumento, mas acrescenta que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se omite perante a disputa, o que cria condições para os excessos de Lira
“O abuso de poder pela presidência da Câmara dos deputados gera essa distorção onde o Senado não tem tempo para poder colaborar para a construção de textos para medidas provisórias. Isso aconteceu nos quatro anos em que estou aqui”, afirma o senador Alessandro Vieira (PSDB-SE).
“É preciso que, além da comissão mista, eu tenha respeito ao sistema bicameral. Tenho que ter tempo para que os plenários votem, não posso deixar para o último dia do prazo. Ou o Congresso vai resolver isso, ou vai ser preciso acionar a Justiça novamente”, completou.
Vieira chegou a acionar o STF (Supremo Tribunal Federal) no início da atual legislatura depois que Lira se recusou a assinar o ato que restabelecia a tramitação tradicional das medidas provisórias, que havia sido suspenso durante a pandemia.
Quando publicada pelo governo, uma MP passa a valer imediatamente, mas tem 120 dias para ser aprovada pelo Congresso ou “caduca” (perde seu efeito).
A Constituição determina que o texto passe por uma comissão formada por deputados federais e senadores. No período da emergência sanitária, no entanto, as MPs passaram a ser apreciadas direto no plenário —primeiro na Câmara e depois no Senado.
Aliados de Pacheco afirmam que o pouco tempo que o Senado teve para apreciar a medida provisória da Esplanada se explica, primeiro, pelo impasse quanto ao trâmite no início da Legislatura e, depois, pela crise entre o governo Lula e o centrão, que atrasou o início da votação na Câmara —e dizem que os senadores foram contemplados no debate graças à comissão mista inicial.
Pacheco apareceu de surpresa na comissão mista, composta por senadores e deputados, após a aprovação do programa habitacional Minha Casa Minha Vida texto, na sexta, e discursou para defender o rito atual de tramitação de MPs.
Conhecido pelo perfil conciliador, o presidente do Senado relativiza a falta de tempo dos senadores, diz que Lira, em geral, tem enviado os textos com mais prazo ao Senado e evita críticas à Câmara.
Questionado pela imprensa sobre o tema na quarta, o senador brincou que os jornalistas queriam arrancar dele uma declaração polêmica.
Por Bahia.ba