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SALVADOR - 14/01/2018

Cinco praias de Salvador concentram maiores níveis de poluição

Cinco praias de Salvador concentram maiores níveis de poluição

A julgar pela qualidade da água imprópria para banho, Boca do Rio, Armação, Penha, Periperi e Pedra Furada são as cinco piores praias de Salvador, conforme a frequência das aparições no relatório de balneabilidade do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) nas 52 semanas de 2017.

Por outro lado, Praia do Flamengo, ao lado de Stella Mares, seguidas por Marina do Contorno (Preguiça), Placafor e Porto da Barra estão entre as cinco praias da capital baiana que apresentam melhores condições para os frequentadores desfrutarem o banho de mar.

O ranking é resultado de um levantamento feito por A TARDE com base nos 35 pontos que são analisados semanalmente por técnicos do Inema, de São Tomé de Paripe à Praia do Flamengo, para detectar a presença de coliformes fecais no mar.

As cinco estão à frente, inclusive, de Patamares (que aparece em sexto lugar), onde o recente vazamento acidental de efluentes no rio Jaguaribe, por causa de uma obra da Embasa, reacendeu um velho problema quanto ao despejo clandestino de esgoto doméstico nos cursos d'água de Salvador.

A praia de Armação – que no ano passado todo foi considerada imprópria – sofre influência direta da poluição advinda dos rios Camarajibe (o chamado Rio das Tripas) e das Pedras, que recebe dejetos ao passar por boa parte do bairro da Boca do Rio, até desaguar na praia de mesmo nome.

Já o Camarajibe, com 14 quilômetros de extensão, o que o alça à condição de maior rio da capital, sofre com o despejo de poluentes desde a nascente, na localidade de Boa Vista de São Caetano, até a foz, na praia do Jardim dos Namorados, antes conhecida por Chega Nêgo.

"A olho nu"

A menos de um quilômetro da foz do rio, está a praia de Armação, onde nem a sujeira nem o mau cheiro são suficientes para afastar os surfistas locais Caio Bezerra, 20 anos, e Erick Brandão, 22, que não abrem mão de praticar o esporte sobre as ondas "no quintal de casa".

Questionado por A TARDE se tem o hábito de conferir a balneabilidade da praia antes de surfar, Caio rebateu que não. "Porque é algo que a gente enxerga a olho nu, mas, mesmo assim, a gente não deixa de entrar na água suja", diz ele, que chama o Camarajibe de "esgoto".

Menos de 4 quilômetros ao norte, o pescador Egídio Brandão, 64 anos, observa, com pesar, a água escura do Rio das Pedras desembocar na Praia do Pescador, na Boca do Rio. Até receber o nome, já no final do curso, o Rio das Pedras é alimentado por outros, a exemplo do Cascão, Saboeiro, Cachoeirinha e Pituaçu.

Agentes de limpeza em meio ao lixo no Costa Azul (Foto: Alessandra Lori | Ag. A TARDE)

O cenário, nem de longe, remete aos tempos de outrora, quando ali próximo, lembra o pescador, a Praia dos Artistas enchia de gente. "Junta-se a falta de barracas com a sujeira, não vem mais ninguém para esse lado, além de pescador e surfista. Muitos já tiveram doença de pele, diarreia, vômito e vermes, por entrar no mar para pegar os barcos", aponta.

Inema

O diretor de águas do Inema, Eduardo Topázio, salienta que o crescimento urbano desordenado da capital ao longo das décadas colaborou para o lançamento de esgoto doméstico clandestino nos rios, o que, por consequência, tem afetado a qualidade da água também nas praias.

Atualmente, segundo informações da Embasa, a cobertura de esgotamento sanitário da capital baiana é de 85%, "um dos maiores índices entre as capitais do país", diz a nota. Ano passado, prossegue o texto, foram realizadas 36.193 novas ligações à rede.

"Os rios, assim como as praias, chegaram a esse estágio por falta de planejamento urbano", aponta o diretor. "É um problema não só dos bairros pobres, já que muitos condomínios de Patamares ainda usam as fossas da época em que foram construídos. Tudo vai para o rio (Jaguaribe) e, depois, para o mar", completa.

Para sanar o problema, sugere o diretor, a solução seria extinguir as fontes poluidoras dos rios, que teriam autossuficiência para voltar ao estado natural. "Mas, para isso, é preciso ordenar o uso do solo urbano. Caso contrário, vamos continuar enxugando gelo, apesar do investimento em saneamento", analisa.

Topázio explica, ainda, que o esgoto lançado nos rios começa a se dissipar automaticamente por meio de reações químicas que o mineraliza. Se chegar ao ponto de ir para o mar, continua, cada fração do efluente deixa de existir em um intervalo de uma hora e meia a três horas, sob condições normais de sol.

"As bactérias não sobrevivem por muito tempo. As últimas a se decompor são as do grupo dos coliformes fecais, que podem conter bactérias patogênicas", explica. "São mais fáceis de identificar, porém mais resistentes. Por segurança, só a presença delas já é indicativo de risco", conclui.

Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), uma praia é considerada imprópria para banho com mais de 20% das amostras coletadas, em cinco semanas consecutivas, contendo acima de 1.000 coliformes fecais ou 800 Escherichia coli.

E se, na última coleta, o resultado for superior a 2.500 coliformes termotolerantes, 2.000 Escherichia coli ou 400 enterococos, por 100 ml de água.

Situação em Patamares ficou crítica com vazamento de esgoto

A situação da praia de Patamares, na orla atlântica, se destacou por causa do vazamento da rede coletora da Embasa para o Rio Jaguaribe, o que deixou o curso d’água com coloração escura e fétido, desde os últimos dias de 2017 até a quarta-feira passada, quando o reparo foi finalizado pelo órgão.

Embora o fato tenha chamado a atenção recentemente, a praia da Terceira Ponte foi considerada imprópria em 42 das 52 semanas de 2017, além de duas semanas este ano. Patamares foi avaliada pelo Inema como própria para banho apenas duas vezes nas 53 semanas de 2016. 

Alheio a tal contexto, o servidor público Alexandre Sousa, 57 anos, só deixou de cruzar o rio durante as caminhadas depois que o corpo hídrico passou a serpentear com água preta. O mesmo fez o vendedor de picolé Tainã Jesus, 29 anos, que ainda esboçou uma tentativa na última quarta.

“Nunca vi tanto  o rio quanto o mar do jeito que está. Não sei como é que tem gente que ainda toma banho na praia”, observou o servidor público. “Enquanto não melhorar, vou trabalhar em outras praias, pois a clientela caiu nos últimos dias”, lamentou o vendedor. A TARDE

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