A Bahia reduziu em 59,49% o número de casos de Aids diagnosticados entre 2017 e 2018. Dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) revelam que, em 2017, 1.817 pessoas descobriram a doença, enquanto no ano passado o número caiu para 736. Em 2019, até novembro, foram registrados 687 novos casos.
Carla Bresse, integrante da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Sesab, atribui a queda vultuosa à adoção do protocolo "Testou, Tratou", instituído a partir de 2013 pelo Ministério da Saúde. “Existiam alguns critérios que as pessoas uma vez diagnosticadas precisavam atingir, como valores CD4 e carga viral, para então iniciar o tratamento”, explicou Bresse. O novo protocolo passou a determinar que após uma pessoa ser diagnosticada, deveria iniciar imediatamente o tratamento para o HIV. “Essa é a resposta para a redução dos números”, cravou a profissional.
A diretora destacou a importância de entender a diferença entre a Aids e o HIV. “Casos de Aids são aquelas pessoas que são portadoras do vírus HIV e que adoeceram. Os casos de HIV são todas as pessoas que são portadoras do vírus. Ainda existe uma associação achando que é a mesma coisa”, esclareceu Carla.
Outra iniciativa apontada por Bresse como ponto positivo e que contribuiu com o índice de manifestação da doença foi a descentralização do diagnóstico. “Hoje os 417 municípios do estado da Bahia têm acesso ao teste rápido e isso melhora nossa sensibilidade para o diagnóstico”, comentou. Ela acredita que descentralizando esse acesso a tendência é de aumentar o número de testes realizados e casos diagnosticados.
A notificação ao Ministério da Saúde sobre os diagnósticos de Aids e HIV foram iniciadas em 1980. Desde então o estado registrou 35. 823 casos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
BRASIL TEM AUMENTO DE 21%
Apesar dos resultados na Bahia indicarem uma melhora, no geral a situação vivida no Brasil é diferente. O país teve um aumento de 21% no número de infecções pelo vírus HIV, que causa a Aids, desde 2010. O imunologista Claudilson Bastos acredita que a população, principalmente os mais jovens, vem se descuidando. “A geração atual vive algo diferente da geração da década de 1980, em que muitas pessoas tinham a Aids como aquela imagem de Cazuza na revista Veja. Hoje muitas vezes as pessoas estão se descuidando”, analisou.
Apesar do crescimento de casos nacionalmente, o imunologista destaca as possibilidades de portadores de HIV e Aids conseguirem conviver com o vírus. “Com a terapia combinada de antiretrovirais cada vez mais eficazes e seguros, com menos efeitos colaterais, a pessoa consigue viver sua vida sem problemas, normal, trabalhando, fazendo exercícios físicos, se alimentando, com encontros sociais”, disse Claudilson.
No entanto, ele fez um alerta: é muito importante que os portadores se submetam e se comprometam com o tratamento. Segundo o especialista, o fato de não fazer o tratamento regular, abandoná-lo em certos momentos, pode fazer com que o vírus crie resistência, e com isso existe a possibilidade de desenvolver a Aids.
O imunologista avalia positivamente a política de controle do HIV brasileira. Para ele, se trata de uma “política de saúde eficaz” e os governos atuam de forma proativa. “O Brasil tem tratamento gratuito, pelo SUS, e uma diversidade muito grande de medicamentos antirretrovirais”, comentou. BN