A pandemia chegou igual a uma tsunami, passando por cima de trabalhadores, que começaram a ter sintomas de ansiedade, depressão e outras doenças da alma e da mente. Muitos deles ficaram a deriva, em um país onde menos da metade (46%) das empresas realizavam alguma ação voltada para a melhoria da saúde mental dos funcionários, segundo a Mercer Marsh Benefícios Brasil, com base na realidade em 2019.
“As empresas estão mais preparadas para lidar com câncer e infarto dos colaboradores do que com transtornos mentais. Os líderes precisam entender que doenças psiquiátricas são tão incapacitantes quanto qualquer outra. E que, quando esses profissionais estão bem, também são tão produtivos quanto os outros”. O conhecimento adquirido pela diretora executiva de Marketing de uma multinacional, Dyene Galantini, complementa os dados. Mas, a visão dela não é a de uma líder qualquer. É de quem se internou em clínica psiquiátrica para tratar um episódio depressivo ocasionado por transtorno bipolar, saiu de lá com uma guia para se aposentar por invalidez e não desistiu de mostrar que ainda era capaz de trabalhar.
Depois de superar tudo isso, ela reuniu textos que escreveu durante a internação e lançou o livro “Vencendo a Mente”. “Coloquei o livro no gerúndio porque você não vence a depressão e sim continua vencendo. Cada fase é de um jeito. Agora eu tento inspirar outras pessoas e líderes a darem oportunidades para pessoas que apresentarem transtornos mentais”, conta.
A oportunidade que ela pede já é realidade na rede de supermercados Verdemar, em Belo Horizonte. E não é de hoje. Por meio do projeto Inclusão como Valor a empresa abriu as portas para pessoas com transtornos mentais, como esquizofrenia, que faziam acompanhamento na rede municipal de saúde da capital. As escolhidas foram treinadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e ocuparam postos como aprendizes nos supermercados. A primeira turma foi de 2015. Alguns funcionários antigos da rede ficaram responsáveis por acompanhar o desempenho dessas pessoas. Os que se destacaram foram efetivados. Mais de 80 colaboradores atuais do supermercado foram admitidos por meio do projeto.
Um ganho para os que foram incluídos, para a empresa e para os demais funcionários, segundo o superintendente de Recursos Humanos do Verdemar, Leandro Souza de Pinho. “Várias colaboradores se sentiram mais confortáveis para nos contar que sofriam com depressão ou ansiedade porque sabiam que seriam acolhidas”, diz. Durante a pandemia, a rede ampliou esse cuidado com o projeto Eu te protejo, você me protege, com ações visando o bem estar dos funcionários. “A humanização é cada vez mais importante. Gastar com a saúde do trabalhador não é custo, é investimento, porque recebemos em troca produtividade”, afirma.
Faltam dinheiro e conhecimentoAs poucas empresas que já tinham ações focadas na saúde mental dos funcionários olhavam a questão de forma superficial, segundo a pesquisa feita pela consultoria Mercer Marsh Benefícios Brasil.
Conforme o estudo, grande parte das ações das empresas está focada no indivíduo e não abrange questões mais amplas, como mudança de cultura empresarial, debate sobre liderança, ambiente organizacional, análise de carga horária, dentre outras questões que poderiam melhorar saúde mental. E as principais explicações dadas pelos empresários entrevistados pela consultoria são: falta de orçamento e de conhecimento sobre o assunto e por não considerar um tema importante.
Do outro lado, existe ainda uma espécie de trava por parte dos funcionários. Pesquisa recente feita pela consultoria Willis Towers Watson, dos Estados Unidos, mostrou que metade dos entrevistados no estudo se sentem à vontade para conversar com um psiquiatra ou psicólogo. Mas, se o profissional for indicado pela empresa, a porcentagem cai para 36%.
E se a ajuda vier da área de Recursos Humanos das empresas, a situação piora ainda mais: só 28% dos colaboradores têm coragem de ser sinceros quanto a esse tipo de sentimento para a área de RH, ainda segundo o estudo da consultoria. Informações por O TEMPO