Nesse contexto, de acordo com especialistas, a manifestação dos efeitos da doença pode se tornar permanente tanto para pacientes e suas famílias, quanto para profissionais da área da saúde.
Para o especialista em terceira idade e saúde mental Davi Fiuza Diniz, o papel das associações de pacientes e familiares nesse processo de reabilitação é muito importante. Ele cita o trabalho da Associação em Defesa da Saúde Mental (ADSM) – organização não governamental (ONG) cearense –, que busca dar apoio aos pacientes por meio de terapias de grupo e de atendimento com familiares e cuidadores, e de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais de saúde e de outras áreas.
Diniz, que trabalha na ADMS, afirmou que muitos dos problemas mentais dos assistidos pela associação se agravaram durante a pandemia. Ele mesmo sentiu esse problema por ter na família duas pessoas com transtornos mentais. “Eu sei o que é essa dor”, afirmou. Hoje, seus parentes estão estabilizados depois de participar de terapias de grupo na ONG.
“A gente busca mostrar para pessoas e familiares que tenham alguém na família com problema emocional que, quando saírem do psiquiatra ou do psicólogo, eles têm suporte. Existe toda uma conduta para dar equilíbrio emocional. A Associação tem vários serviços com essa finalidade: dar suporte para as pessoas que apresentam algum problema e, também, para os familiares que estão acompanhando, porque também precisam de apoio”, disse Diniz.
Em entrevista à Agência Brasil, o psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) Luiz Carlos Coronel afirmou que a pandemia desencadeou algo que estava latente ou agravou o que já existia. No caso do Brasil, segundo ele, ocorreram as duas coisas, mas agravou especialmente as grandes necessidades de saúde mental da população que já existiam.
Luiz Carlos Coronel lembrou que o país, de acordo com a pesquisa Vigitel 2021 do Ministério da Saúde, é campeão na América Latina de casos de depressão, envolvendo 11,3% da população. “É campeão de transtornos de ansiedade e por aí vai”, disse. Segundo o especialista, isso ficou agravado pela pandemia, pelas restrições e por tudo que acompanhou o processo epidêmico de ameaça à vida.
Em função da restrição de circulação, aumentaram também as patologias ligadas ao consumo de substâncias psicoativas. “O pessoal passou a usar mais álcool e outras drogas e isso ocasionou também um agravamento das situações conflitivas. Então, aumentou muito o número de violência doméstica, devido à restrição de circular, de conviver com outras pessoas”.
Coronel ressaltou que como resultado de tudo isso estão os efeitos da infecção pela covid-19 que ainda vão se manifestando ao longo do tempo, inclusive formas que não são graves, mas moderadas, e que apresentam manifestações cerebrais, clínicas. “Essas viroses têm essas capacidades que a gente não conhece bem. São os efeitos a longo prazo”. Outro fator é que o Brasil cresceu muito nos últimos 30 a 40 anos em termos populacionais, e a estrutura de atendimento e assistência à saúde não acompanhou esse crescimento, afirmou o psiquiatra. “A rede de atendimento à saúde continua precária, apesar dos esforços do Ministério da Saúde. E da saúde mental é mais precária ainda”, complementou.
Luiz Carlos Coronel avaliou que a pandemia deixou uma “covid longa”. Ou seja, seus efeitos já estão sendo sentidos e vão continuar aparecendo por longo período. “Indefinido tempo ainda. Nenhum pesquisador tem ideia de quanto vai durar a produção desses efeitos secundários da doença, principalmente afetando a saúde mental da pessoa”.
Todo mundo ficou restrito, ficou com menos recursos de convivência, acarretando grandes índices de depressão, de ansiedade, de uso e abuso de substâncias psicoativas e de drogas. Tudo isso ficou aumentado”, disse.
Edição: Nélio Neves de Andrade
Por Agência Brasil