De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, cerca de 50 milhões de pessoas convivem com algum tipo de transtorno psicológico, como depressão, ansiedade, transtornos de humor, dentre outros. Não à toa, a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor apresentou um crescimento de 58% entre os anos de 2017 e 2021, no Brasil. Os dados são do Conselho Federal de Farmácia. Esses medicamentos atuam no sistema nervoso central para corrigir a transmissão neuroquímica nas áreas do cérebro responsáveis pela regulação do humor.
De acordo com Dinálio Bulhões Nunes Júnior, psiquiatra e professor do curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS), os antidepressivos podem ser utilizados por pessoas de todas as idades e a escolha do fármaco é feita de maneira individual, considerando fatores como idade, sexo, gestação e presença de outras comorbidades, por exemplo. Eles atuam no combate de sintomas da depressão - como tristeza mantida, perda de prazer e interesse por atividades antes prazerosas, falta de energia etc. - através da regulação de neurotransmissores do organismo, como a serotonina e noradrenalina.
O professor também lembra a importância de evitar uso de substâncias psicoativas, como álcool e cafeína, dentre outras, já que elas podem potencializar uma piora do quadro instalado. “Substâncias psicoativas podem agudizar os sintomas depressivos e piorar o quadro do paciente, gerar oscilação do humor ou uma instabilidade no quadro que está sendo tratado. Além disso, essas substâncias podem diminuir o efeito terapêutico do psicofármaco”, explica.
Doença multifatorial
O especialista avalia, também, possíveis causas para o aumento no uso de antidepressivos no país. “O Brasil é um país extremamente violento do ponto de vista social e econômico. Elementos estressores, como a violência doméstica ou social e as dificuldades financeiras, são fatores de vulnerabilidade para o desenvolvimento de um quadro depressivo e podem estar ligados a esse aumento”, analisa Dinálio. A dificuldade de acesso a recursos para o tratamento da saúde mental também é apontada como uma das possíveis causas.
Dinálio Bulhões Nunes Júnior diz, entretanto, que é importante lembrar que a depressão é uma doença multifatorial, ou seja, não está ligada apenas a elementos estressores. É preciso considerar, também, os fatores genéticos e outras causas ainda desconhecidas, o que explica a presença da doença em todo o mundo, inclusive em países que oferecem melhor qualidade de vida para a sua população.
Riscos do uso sem orientação médica
O Brasil é um país onde a automedicação se tornou uma espécie de mania nacional. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), em parceria com o Datafolha, revelou que o número de brasileiros que tomam remédios por conta própria subiu de 76% em 2014 para 89% em 2022.
Dinálio Bulhões Nunes Júnior chama a atenção para os perigos dessa prática, especialmente nos casos de remédios controlados, como os antidepressivos. “Essa prática pode aumentar a instabilidade do quadro, atrapalhar o diagnóstico, seja por um não-diagnóstico ou por uma classificação equivocada, além dos perigos das interações medicamentosas, caso o paciente faça uso de fármacos para o tratamento de outra doença”, explica o profissional.
Conforme o professor da UNIFACS, que faz parte do Ecossistema Ânima, o uso de psicofármacos deve ser feito de forma orientada e supervisionada por um psiquiatra. “Pacientes que já estejam em tratamento ou em uso de medicação não devem fazer a redução de doses ou suspensão da medicação sem o devido consentimento ou acompanhamento do psiquiatra”, frisa o especialista.