A história não é nova, mas tem ganhado novos roteiros. Na década passada, o consumo e venda ilegal de antidepressivos e dos famosos tarjas pretas tinham como cenário os balcões de farmácias que costumavam cobrar um valor a mais para dispensar a prescrição médica. Em alguns casos, evocava-se o espírito hollywoodiano e a balconista pedia até uma senha misteriosa para entender do que se tratava. Agora, o cenário se estende à internet e, de tão comum e certeza da falta de fiscalização, perde-se o pudor e os traços cinematográficos.
Uma busca rápida na internet já traz os anúncios: “não pedimos receita”, “compre sem receita agora mesmo”, “não precisa de receita e entrega em todo o Brasil”, tudo isso em letras garrafais, a um clique de distância. Isso sem falar nas farmácias físicas que já têm fama informal de facilitar a compra. E há ainda os supostos médicos que vão às redes sociais indicar medicamentos antidepressivos que, segundo ele, não viciam, não causam dependência e não precisam de prescrição médica.
Não é à toa o termo tarja preta. Eles atuam diretamente no sistema nervoso, expondo o paciente a uma série de riscos, inclusive dependência. Há casos até de pessoas que não lembram o que fizeram após o uso de anssiolíticos. O neurologista Ivar Brandi alerta para os perigos: “na fase inicial do tratamento, pode haver piora da ansiedade. Há estratégias médicas para redução do risco. Portanto, o acompanhamento é indispensável”. Ainda assim, o médico relata um crescimento do número de pessoas buscando auxílio médico para tentar reverter os prejuízos causados pelo uso irregular.
É justamente por conta desses perigos que uma série de normas são estabelecidas para a venda legal. O farmacêutico João Costa Fontes explica que é necessária a apresentação de uma receita específica para psicotrópico, a retenção e o cadastro dela em um sistema de controle. “Lembrando que todos esses procedimentos são feitos pelo farmacêutico”, pontua. Mas um simples número pode derrubar todas essas travas: só no ano passado, por exemplo, o Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA) autuou no estado 432 estabelecimentos pela ausência de farmacêutico. Como então elas vendiam esses medicamentos?
Por Metro 1