O pai da menina Emanuelly Aghata da Silva, que morreu em março deste ano com sinais de espancamento, em Itapetininga (SP), afirmou durante a primeira audiência realizada pelo juiz Alfredo Gehring que agredia a filha com tapas no rosto como forma de disciplina e que a menina chegava a sangrar na boca.
“Eu dava umas palmadas nela e também uns tapas. Saía um pouco de sangue na boca. Ela desobedecia a mãe e eu corrigia a Emanuelly. Eu batia forte. Também já bati com uma boneca na cabeça dela que chegou a quebrar”, afirmou Phelipe Douglas Alves durante o interrogatório.
Phelipe Alves, de 25 anos, e Débora Rolim da Silva, de 24 anos, estão presos na penitenciária em Tremembé desde que tiveram a prisão preventiva decretada em março.
A audiência foi realizada nesta segunda-feira (18) no Fórum de Itapetininga e a reportagem do G1 acompanhou os depoimentos de 33 testemunhas, além dos pais da criança.
Após 10 horas, o juiz decidiu que os dois sejam julgados em júri popular pelos crimes de homicídio, tortura, cárcere privado e adulteração de local do crime.
Durante o depoimento, Phelipe negou a acusação de que matou a filha e de que a torturava. Porém, admitiu que a agredia.
Disse também que no dia 2 de março ficou na casa com Emanuelly durante o diae que a criança chegou a arranhar a mãe assim que a mulher chegou do trabalho.
“Eu estava na casa e ela estava de castigo porque já tinha desobedecido a mãe. Quando a Débora chegou, eu fui comprar um cigarro. Ao voltar, meu filho menor disse que a Manu tinha arranhado a mãe. Eu fui lá no quarto e dei umas palmadas nela”, alegou ao juiz.
De acordo com Phelipe, na sequência a menina urinou na calça e, ao levar ao banheiro, ele a empurrou. Na sequência, o pai alega que a criança teria escorregado, batido a cabeça e ficado desacordada.
Phelipe também confirmou durante o depoimento que já tem passagens na polícia pela lei Maria da Penha contra Débora e também por furto, além de ter sido usuário de maconha, crack e cocaina.
Débora também prestou depoimento durante audiência. Questionada pelo juiz sobre as denúncias dos crimes de homícidio, cárcere privado, tortura e fraude processual, ela negou todos.
Segundo a mãe da criança, Emanuelly caía e o pai a batia nela quando a desobedecia. Na noite da morte, ela alega que a filha a arranhou com um arame e quando Phelipe soube, foi conversar.
“Ele soube que ela tinha me arranhado e foi lá conversar com ela. Passei uma hora na porta do quarto e eles estavam conversando. Depois de 20 minutos ele estava com ela no colo. Não ouvi grito e nem choro. Ele disse que caiu e que ela teve convulsão. Aí tentamos reanimar ela com acetona e ela já estava molhada com xixi. Aí chamamos o Samu”, relatou a jovem ao juiz.
De acordo com Debora, ela não agredia a filha e que a menina sofria queda capilar.
“Eu não ia lutar três anos por ela se eu não amasse ela. Eu não ia pegar uma criança pra bater nela. Ela era uma menina doce, meiga. Só me desrespeitava. Já o Phelipe ela obedecia. Ela estava com hematomas, mas eram poucos por causa das quedas que sofria. O cabelo ela tinha problema de queda porque eu prendia muito forte. Depois só no dia que ela morreu que vi que ela tinha mais hematomas”, afirmou durante depoimento.
Questionada sobre sangue na casa, Débora afirmou que não viu. "Eu não vi nenhum sangue pela casa. Nada", afirmou.
Vestindo uniformes da cadeia, Débora e Phelipe chegaram ao fórum às 10h15. A audiência começou às 10h30.
Foram ouvidas 33 testemunhas. A primeira pessoa que foi ouvida foi a babá da menina, que trabalhou por três meses na casa da família.
Durante o depoimento, ela relatou que somente Emanuelly, entre os três filhos de Débora, apresentava hematomas pelo corpo. Além disso, disse que denunciou o caso após notar que havia um hematoma no olho da menina.
Em seguida, uma investigadora da Polícia Civil, que esteve no hospital com o delegado no dia da morte, prestou depoimento.
Para a policial, a frieza dos pais, principalmente da mãe, chamou a atenção durante o socorro da criança.
Dois delegados, o que estava de plantão no dia da ocorrência e o que concluiu o inquérito, foram ouvidos na sequência, assim como o escrivão de plantão e a escrivã da Delegacia de Defesa da Mulher. Outros três policiais civis foram dispensados da audiência.